TODOS
SÃO IGUAIS PERANTE A LEI.
MENOS
A MAIORIA
Por Ricardo
Noblat – 23/09/2016 - 05h16
EIKE BATISTA, O ACUSADOR DE MANTEGA |
Ou
havia fortes motivos para prender temporariamente o ex-ministro da Fazenda
Guido Mantega ou não havia. Se havia ele não deveria ter sido solto. Se não
havia, não deveria ter sido preso. Simples assim.
O
juiz Sérgio Moro mandou prender e depois soltou Mantega porque ele estava em um
hospital de São Paulo acompanhando sua mulher, preste a ser operada. Moro
alegou tratar-se de “questão humanitária”.
Foi
isso ou Moro, espertamente, quis esvaziar o discurso do PT de que cometera uma
barbaridade prendendo um homem no momento em que sua mulher mais precisava
dele? Foi mais político do que juiz?
Questão
humanitária não pesou na hora em que José Genoíno, ex-presidente do PT, foi
trancado em uma cela da Papuda, penitenciária de Brasília, apesar de seu estado
clínico exigir severos cuidados.
O
empresário José Carlos Bumlai foi solto outro dia depois que se descobriu que
sofria de câncer. Pois um dia desses voltou a ser preso apesar do câncer.
Está
para se conhecer a história do procurado pela polícia que escapou de ser preso
porque sua mulher, paciente do SUS, ia começar a ser operada. Ou todos são
iguais perante a lei ou não são.
Aqui,
mas não só, e com uma frequência abusiva, fica demonstrado que poucos são
iguais perante a lei. O rigor da lei aplica-se aos mais fracos, aos
desorganizados, aos sem voz. Ou seja: à maioria anônima do povo.
A
distância entre o andar de cima e o de baixo é muito mais abissal do que sugere
de pronto a imagem. Vozes famosas exprimiram seu horror com a situação vivida
por Mantega.
“Foi
uma violência”, decretou o ex-ministro Delfim Netto, que ontem tinha um almoço
marcado com seu colega. “Foi constrangedor para todos”, disparou Gilmar Mendes,
ministro do Supremo Tribunal Federal.
Voz
alguma comentou o motivo pelo qual Mantega foi preso durante quatro horas. Ele
é acusado de ter pedido R$ 5 milhões ao empresário Eike Batista para pagar
dívidas do PT contraídas nas eleições de 2010.
O
mais longevo ministro da Fazenda da história do Brasil, o responsável, em
parte, pela ruína da economia, foi também aquele que usou o poder do seu cargo
para tomar dinheiro de empresário.
Tenho
a impressão de que isso é mais triste e mais grave do que o fato de agentes
federais terem prendido Mantega na porta de um hospital.
RICARDO NOBLAT É JORNALISTA |
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