Em 2015, o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD)
divulgou os resultados de uma pesquisa feita junto a emissoras de rádio e casas
de festas, para saber quais as músicas interpretadas por Elis Regina que foram
mais tocadas entre os anos de 2010 e 2014. Veja a lista:
COMO NOSSOS PAIS – BELCHIOR
O BÊBADO E A EQUILIBRISTA – JOÃO BOSCO/ALDIR BLANC
ÁGUAS DE MARÇO – TOM JOBIM
ALÔ, ALÔ, MARCIANO – RITA LEE/ROBERTO CARVALHO
CASA NO CAMPO – ZÉ RODRIX/TAVITO
FALSO BRILHANTE – VERSÃO ARMANDO LOUZADA
MADALENA – IVAN LINS/RONALDO MONTEIRO DE SOUZA
APRENDENDO A JOGAR – GUILHERME ARANTES
TIRO AO ÁLVARO – ADONIRAN BARBOSA/OSWALDO MOLLES
ROMARIA – RENATO TEIXEIRA
(9º LUGAR)
TIRO AO ÁLVARO
DE ADONIRAN
BARBOSA E OSWALDO MOLLES
De tanto levar frechada do teu olhar
Meu peito até parece sabe o quê?
Táubua de tiro ao álvaro
Não tem mais onde furar
Táuba de tiro ao álvaro
Não tem mais onde furar
Teu olhar mata mais do que bala de carabina
Que veneno e estriquinina
que peixeira de baiano
Teu olhar mata mais que atropelamento de automóver
Mata mais que bala de revórver
(10º LUGAR)
ROMARIA
DE RENATO TEIXEIRA
É de sonho e de pó, o destino de um só
Feito eu perdido em pensamentos
Sobre o meu cavalo
É de laço e de nó, de gibeira o jiló
Dessa vida cumprida a sol
Sou caipira, Pirapora nossa
Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida
Sou caipira, Pirapora nossa
Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida
O meu pai foi peão, minha mãe, solidão
Meus irmãos perderam-se na vida
Em busca de aventuras
Descasei, joguei, investi, desisti
Se há sorte eu não sei, nunca vi
Sou caipira, Pirapora nossa
Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida
Sou caipira, Pirapora nossa
Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida
Me disseram, porém, que eu viesse aqui
Pra pedir em romaria e prece
Paz nos desaventos
Como eu não sei rezar, só queria mostrar
Meu olhar, meu olhar, meu olhar
Sou caipira, Pirapora nossa
Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida
Sou caipira, Pirapora nossa
Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida
***
Quem ouve Elis cantar, ainda que só pelas gravações que ela deixou,
não tem como manter-se em desacordo com os que a consideram a melhor intérprete
da Música Popular Brasileira. É como duvidar que Pelé seja o grande craque da
bola, algo completamente fora de cogitação. Elis reuniu – e desenvolveu – todas
as qualidades que fazem uma cantora marcar época. Senhora da técnica e dona de
uma emoção irrefreável, exalava boa música por todos os poros. Com timbre vocal
agradabilíssimo e afinação a toda prova, encarou de tudo. Não que fosse
eclética, ainda que tenha aberto também esse flanco. Cantou samba, bolero,
calipso, Bossa Nova, rock. Em cada gênero, firmava novas possibilidades de
vocalização. E tinha uma força descomunal no palco. Ao vivo, arrebatava o público
como uma Maria Callas. Costumava dizer que havia se apaixonado pelo som da
própria voz. Ela e o Brasil, que não a deixaria marcar apenas a época em que
vivera.
Elis continua sendo a maior referência para quem segue o ofício de
cantar MPB, em um raro caso de reverência mítica – como Paganini para o violino
ou Jimi Hendrix para a guitarra elétrica.
Essa devoção é alimentada não só pelos fãs da cantora, que são
muitos, mas principalmente pelos compositores que ela gravou. Milton Nascimento
afirma dedicar a Elis as canções que fez. Todas. Antenada aos talentos que
emergiam enquanto a música popular era sacudida por festivais, protestos, Jovem
Guarda, tropicália, Clube da Esquina e uma nova escola nordestina, Elis apostou
em desconhecidos e fez com que se consagrassem nacionalmente. Venceu um
festival cantando Edu Lobo (“Arrastão”), gravou o tropicalista Gilberto Gil,
chamou a atenção para o mineiro Milton e sua turma de Belo Horizonte, lançou o
cearense Belchior e imortalizou “Romaria” do paulista Renato Teixeira.
Enquanto estimulava jovens carreiras, jamais deu as costas para a
tradição. Cantava Ataulfo Alves, João do Vale, Dorival Caymmi e Adoniran
Barbosa. Cantou “Águas de Março” em dueto com Tom Jobim. Cantou o que era bom.
E se não fosse, ficava.
Celso Masson
Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira
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