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ENCICLOPÉDIA DA CORRUPÇÃO
Por Ruy Castro
FOLHA DE S. PAULO EM
21/09/2016
(RIO
DE JANEIRO - Já contei essa história. Há muitos anos, encontrei uma amiga poeta
na avenida Rio Branco. Convidou-me a um café em seu escritório e, quando me dei
conta, tinha me vendido uma "Encyclopaedia Britannica", com 32
volumes, um dicionário "Webster", também com três volumes — um deles
incluindo um guia de pronunciação em sete línguas —, e um possante atlas já trazendo
as novas nações africanas e asiáticas independentes. Eu não sabia que minha
amiga se tornara vendedora de enciclopédias.
Detalhe:
naquela época, as coisas andavam feias para o meu lado. As contas não fechavam
e eu precisava tanto de uma "Britannica" quanto de contrair peste
suína. Algumas semanas depois, recebi em casa aquela montanha de livros. E quer
saber? Eles me ajudaram a sair do buraco e, nas décadas que se passaram, já se
pagaram muitas vezes. Até hoje os conservo.
Reportagem
no "Estado de S. Paulo",
domingo último (18), falou de como as investigações em Curitiba estão gerando
informações capazes de compor uma nova e hipotética enciclopédia — a da
corrupção brasileira.
Seus
verbetes tratariam de movimentação de propinas originárias de empreiteiras e
órgãos públicos para aprovar medidas governamentais, contas em nome de empresas
off shore e trustes, doações partidárias e eleitorais só aparentemente lícitas,
aquisição suspeita de bens para lavar dinheiro, contratos de consultoria e de
prestação de serviços simulados (palestras, por exemplo?), suborno para calar
elementos que ameaçam aderir à delação premiada, abastecimento de doleiros,
ocultação de patrimônio, criação de institutos fantasmas, empréstimos bancários
fraudulentos, pedaladas fiscais etc. etc.
As
grandes enciclopédias se propõem a abarcar todo o conhecimento do mundo. Mas
uma enciclopédia da corrupção brasileira nunca poderá se dizer completa.
Ruy
Castro é jornalista e escritor
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