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PAPO FROUXO
Há
muito não se visitavam. A afinidade entre eles era, na hipótese mais generosa,
nenhuma. Sempre fora assim. Não haveria de mudar com o tempo. Quando se
encontravam em festas, a convivência era mais fácil. Muita gente, alguma
bebida, nenhum compromisso de falar sobre isso ou aquilo. Cara a cara,
apartados da multidão, a coisa mudava – para pior.
Passados
os primeiros dez minutos, os dois casais já sabiam que, ao menos no discurso,
estava tudo mais ou menos bem com todos, menos para tia Maria cuja doença só fazia
piorar etc.
O
silêncio se impôs, para o constrangimento dos cinco. Cinco? Cinco. Até o cão
não conseguia esconder seu desconforto.
O
marido da dona da casa, sabedor da língua de trapo da prima, resolveu facilitar
as coisas:
--
E aí, gente: vamos falar mal de quem?
A
noite continuou chata. Mas, apressado, o silêncio saiu pela janela.
RELÓGIO SUÍÇO
Naquela
casa, tudo funcionava a contento.
Impossível encontrar objetos fora de lugar. Havia horário para tudo – para o café da manhã, almoço, lanche da tarde, jantar, cear. Havia hora certa para acordar, dormir, tirar cochilo, tomar banho e remédios.Só não havia hora certa para brincar, sorrir. Desnecessário. Ali, era impossível encontrar um contente.
Impossível encontrar objetos fora de lugar. Havia horário para tudo – para o café da manhã, almoço, lanche da tarde, jantar, cear. Havia hora certa para acordar, dormir, tirar cochilo, tomar banho e remédios.Só não havia hora certa para brincar, sorrir. Desnecessário. Ali, era impossível encontrar um contente.
(ORLANDO SILVEIRA - PUBLICADO EM 23/05/2015)
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