quarta-feira, 21 de setembro de 2016

COISAS DA VIDA



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FECHADURA VELHA

(Por Violante Pimentel) Zé de Vina, dono de uma gráfica em Nova-Cruz, era muito conhecido na cidade, pelas suas andanças e farras homéricas. A esposa, dona Anália, era uma verdadeira santa.  Mesmo sabendo das "caminhadas duvidosas" do marido, fazia de conta que não sabia de nada, procurando sempre tapar o sol com a peneira. Preferia fazer-se de boba, para manter a harmonia do seu lar, e para não perturbar os três filhos, ainda crianças.

Entretanto, Zé de Vina era displicente demais, e não procurava evitar que, uma vez por outra, chegasse batendo palmas, à sua porta, uma das mulheres da zona do baixo meretrício de Nova-Cruz, pedindo-lhe dinheiro. Dona Anália ficava de orelha em pé, desconfiada, mas não perguntava nada. Ele é que ficava nervoso e sempre dizia que aquela pobre criatura tinha vindo lhe pedir ajuda, pois não tinha dinheiro para fazer a feira. 

Um certo dia, dona Anália chegou à gráfica do marido e o encontrou na maior prosa com Maria Grude, uma conhecida e fogosa prostituta. Dona Anália fechou a cara e quando o marido chegou em casa, ela fez questão de ignorar sua presença. Pôs o jantar na mesa, completamente muda, e passou o resto da noite sem lhe dar a mínima atenção. Zé de Vina, mesmo sabendo a razão daquilo tudo, fez-se de inocente e perguntou:

- O que foi que houve, pra você estar assim amuada, e sem olhar pra mim, Anália?

A esposa, muito magoada, respondeu:

- Você acha pouco a cena que eu flagrei hoje? Você de prosa com aquela mulher da vida, dentro da tipografia?

O marido, "muito santo" e cheio de razão, respondeu:

- Deixe de besteira, Anália! Como é que você tem ciúme de uma mulher daquela? Você sabe que minha esposa é você!  Aquela mulher é igual a uma fechadura velha, que qualquer chave abre!



(*)Violante Pimentel é procuradora aposentada do Rio Grande do Norte





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