FECHADURA VELHA
(Por Violante Pimentel) Zé
de Vina, dono de uma gráfica em Nova-Cruz, era muito conhecido na cidade, pelas
suas andanças e farras homéricas. A esposa, dona Anália, era uma verdadeira
santa. Mesmo sabendo das
"caminhadas duvidosas" do marido, fazia de conta que não sabia de
nada, procurando sempre tapar o sol com a peneira. Preferia fazer-se de boba,
para manter a harmonia do seu lar, e para não perturbar os três filhos, ainda
crianças.
Entretanto,
Zé de Vina era displicente demais, e não procurava evitar que, uma vez por
outra, chegasse batendo palmas, à sua porta, uma das mulheres da zona do baixo
meretrício de Nova-Cruz, pedindo-lhe dinheiro. Dona Anália ficava de orelha em
pé, desconfiada, mas não perguntava nada. Ele é que ficava nervoso e sempre
dizia que aquela pobre criatura tinha vindo lhe pedir ajuda, pois não tinha
dinheiro para fazer a feira.
Um
certo dia, dona Anália chegou à gráfica do marido e o encontrou na maior prosa
com Maria Grude, uma conhecida e fogosa prostituta. Dona Anália fechou a cara e
quando o marido chegou em casa, ela fez questão de ignorar sua presença. Pôs o
jantar na mesa, completamente muda, e passou o resto da noite sem lhe dar a
mínima atenção. Zé de Vina, mesmo sabendo a razão daquilo tudo, fez-se de
inocente e perguntou:
-
O que foi que houve, pra você estar assim amuada, e sem olhar pra mim, Anália?
A
esposa, muito magoada, respondeu:
-
Você acha pouco a cena que eu flagrei hoje? Você de prosa com aquela mulher da
vida, dentro da tipografia?
O
marido, "muito santo" e cheio de razão, respondeu:
-
Deixe de besteira, Anália! Como é que você tem ciúme de uma mulher daquela?
Você sabe que minha esposa é você!
Aquela mulher é igual a uma fechadura velha, que qualquer chave abre!
(*)Violante Pimentel é procuradora aposentada do Rio Grande do Norte
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