INTERNET |
MENTIRA E VERDADE
Alguns estudiosos afirmam
que a mercadoria mais importante do mundo moderno é a informação. Pensando bem,
foi sempre mais ou menos assim. Quem detinha a informação era poderoso --daí
que a mídia foi elevada a quarto poder, tese contra a qual sempre me
manifestei, achando que a mídia é uma força mas não o poder.
Com a chegada da
internet, suas imensas e inesperadas oportunidades, o monopólio da informação
pulverizou-se. Os jornais, creio eu, foram os primeiros a sentir o golpe, os
livros logo em seguida, havendo até a previsão de que ele acabará na medida em
que se limitar ao seu atual desenho gráfico, que vem de Gutenberg.
Acontece que, mais
cedo ou mais tarde, a mídia impressa ficará dependente não dos seus quadros
profissionais, de sua estrutura de captação das informações. Qualquer pessoa, a
qualquer hora do dia ou da noite, acessando blogs e sites individualizados,
ficará por dentro do que acontece ou acontecerá.
Na atual crise que o
país atravessa, a imprensa em muitas ocasiões foi caudatária do que os blogs
informavam duas, três vezes ao dia. Em termos de amplidão, eles sempre ganharão
de goleada da imprensa escrita e falada.
O gigantismo da
internet tem porém pés de barro. Se ganha no alcance, perde no poder de
concentração e análise. Qualquer pessoa, medianamente informada ou sem
informação alguma, pode manter uma fonte de notícias ou comentários com
responsabilidade zero, credibilidade zero, coerência zero.
O mercado da
informação, que formaria o poder no mundo moderno, em breve estará tão poluído
que dificilmente saberemos o que ainda não sabemos: o que é mentira e o que é
verdade.
(FOLHA ONLINE – 11/04/2006)
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