WILUSTRA |
LAVA JATO ELIMINOU DE 2018
TODAS AS CERTEZAS
Por Josias de Souza - 18/09/2016
- 03:50
Há
moribundos demais no noticiário político. Impossível prever quem chegará vivo à
próxima sucessão presidencial. Quando a posteridade puder falar sobre os dias
atuais sem ter que esperar pela próxima delação premiada, talvez chame a
Operação Lava Jato de “o epitáfio de uma era”. A perspectiva de massacre conduz
a uma conclusão inexorável: 2018 não é mais o que era.
Em
2014, quando Dilma Rousseff foi reeleita, Aécio Neves era o principal líder da
oposição e Lula representava o sonho de continuidade jamais vista. Esboçava-se
um novo embate entre PSDB e PT. Decorridos menos de dois anos, Dilma foi
devolvida ao convívio com os netos, Aécio é protagonista de inquéritos no STF e
Lula está atormentado pelo medo de ser preso.
Numa
velocidade de truque cinematográfico, desfez-se o bipartidarismo que embalava
as disputas presidenciais no Brasil há mais de duas décadas. O PSDB, incorporado
ao governo de Michel Temer, virou força auxiliar do PMDB. O PT, devolvido à
oposição, derrete como sorvete exposto ao sol. E a Lava Jato, ardendo a pino,
revela que forças poderosas tornaram-se impotentes para detê-la.
JOSIAS DE SOUZA É JORNALISTA |
Alternativa
tucana a Aécio, o chanceler José Serra também virou uma biografia sub judice
depois que seu nome soou nas delações da Odebrecht e da OAS. O governador
paulista Geraldo Alckmin, outro presidenciável do ninho, permanece no páreo
apenas até certo ponto. O ponto de interrogação. A plateia aguarda pelo
levantamento do sigilo do anexo da deduragem da Odebrecht sobre governadores.
Não
há alternativas a Lula. Outros partidos têm excesso de cabeças e carência de
miolos. O PT sofre da mesma carência. A diferença é que tem apenas uma cabeça,
cuja placa esquentou depois que a força tarefa do Juízo Final passou a se
ocupar dos seus confortos: o triplex do Guarujá, o sítio de Atibaia, o
guarda-volumes da Granero, as palestra$…
O
novo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), chegou a dizer que Michel
Temer poderia virar um candidato à reeleição. Improvável. Se sobreviver às
delações, à fúria de Eduardo Cunha e aos processos que ameaçam carbonizar a
chapa Dilma-Temer na Justiça Eleitoral, Temer terá de executar um ajuste fiscal
que se assemelha ao sorvo de um gigante, que leva o prato junto. Seu eventual
sucesso será proporcional à sua impopularidade.
“Os
principais atores da política brasileira
perderam
o controle sobre o futuro.
Embora
se considerem cheios de vida,
parecem
jurados de morte”
Ministro
de Temer e presidente do PSD, Gilberto Kassab diz, em privado, o que todos
negam sob holofotes: filiado mais ilustre da legenda, Henrique Meirelles, o
czar da economia, tem pretensões presidenciais.
Com
a experiência de quem saltou do Ministério da Fazenda, sob Itamar Franco, para
dois mandatos na Presidência, o grão-tucano Fernando Henrique Cardoso duvida da
viabilidade eleitoral de Meirelles. Recorda que seu prestígio veio do Plano
Real, que, ao domar a superinflação, elevou automaticamente o poder de compra
dos brasileiros. Quanto a Meirelles, diz FHC, tudo o que tem a oferecer é
“sangue, suor e lágrimas”.
O
cenário de terra arrasada é propício ao surgimento de demagogos, versões
nacionais de Donald Trump. Enquanto isso não ocorre, restam como alternativas
Marina Silva ou o caos — que muitos acreditam ser a mesma coisa. Os principais
atores da política brasileira perderam o controle sobre o futuro. Embora se
considerem cheios de vida, parecem jurados de morte.
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