UM
PERU INESQUECÍVEL
(Por
Violante Pimentel) Antigamente, era uma tradição, que fazia
parte da cultura popular nordestina, o “roubo” de galinhas, na sexta-feira da
paixão. Em Nova-Cruz, as galinhas surrupiadas eram torradas, e serviam de
“parede”, ou “tira-gosto”, aos cachaceiros daquela pequena cidade.
Essa “brincadeira”
grosseira, detestada pelas donas de casa, era praticada por turmas de amigos,
"filhinhos do papai", que faziam isso por mera diversão, ou
traquinagem. Se fosse dada queixa à Polícia, não adiantava nada, pois servia de
galhofa.
"Marta Rocha",
"Adalgisa Colombo", e mais uma dúzia de galinhas de estimação, todas
atendendo pelos respectivos nomes, eram criadas no quintal de dona Lia, minha
mãe, e tratadas na base do pirão de leite com farinha de mandioca, além do
milho e outros alimentos, próprios para esse tipo de ave. Quando chegava a
Semana Santa, aumentava o estresse do pessoal da casa, que tinha experiência
com os costumeiros raptos de galinhas, praticados na Sexta-Feira da Paixão.
MONLULU, o peru de estimação
de Iracema, uma afilhada de dona Lia, que desde menina morava na sua companhia,
foi surrupiado do nosso galinheiro em Nova-Cruz, exatamente numa Sexta-Feira da
Paixão. Monlulu foi levado num "kit", juntamente com três galinhas
gordas e cevadas, criadas soltas no terreiro.
Ao amanhecer o sábado de
Aleluia, de 1995, Iracema fez o costumeiro pirão de leite, com farinha de
mandioca, e foi alimentar as aves, com o que ela chamava de "café da
manhã". Ao notar a ausência de Monlulu, o peru que lhe foi dado pela mãe,
dona Ana, ainda novinho, a moça desabou num choro compulsivo e chegou a passar
mal.
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Violante Pimentel é procuradora
aposentada do Rio Grande do Norte
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Dona Lia, a dona da casa,
indignada, rogou até praga ao malfeitor desalmado que praticara tamanha
maldade. Monlulu, para a devotada Iracema, era como se fosse um filho. Por
isso, a moça ficou em estado de choque. Inconsolável, não podia aceitar que o
dócil peru tivesse ido parar na panela de algum desalmado, e que tivesse
servido de tira-gosto para os cachaceiros da vizinhança.
Essa irreparável perda fez
com que Iracema permanecesse triste durante muito tempo. Todas as pessoas da
casa sentiram a partida de MONLULU.
Louco por Iracema, o peru sentia ciúme dela com as outras aves e não
admitia que as mesmas também fossem tratadas com carinho e atenção. Quando isso
acontecia, partia para o ataque e agredia quem estivesse por perto. Muito compenetrado, desde pequeno atendia
pelo nome carinhoso de Monlulu, escolhido por Iracema, e mostrava-se feliz com
a sua presença.
Na realidade, Monlulu, foi
um peru inesquecível!!!