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A
REPÚBLICA CONTAMINADA
Dilma
bem que avisara na campanha:
“Para
vencer as eleições, faremos o diabo”. Fizeram.
Não
pode se queixar de agora estar indo para o inferno
Por
Ruy Fabiano
Blog
do Noblat – 04/03/2017 - 01h25
A
república continua a bordo do imponderável, refém de uma investigação policial,
a Lava Jato, que tem sido uma história sem fim – uma espécie de trailer da
eternidade.
O
depoimento de Marcelo Odebrecht ao TSE, na quinta-feira, além de confirmar o
que já se sabia – o financiamento criminoso da campanha de Dilma e Temer em
2014 -, inseriu mais um nome no rol dos infratores: a ex-presidente Dilma
Roussef. Nos termos do que foi dito, ela não apenas sabia de tudo, como a tudo
comandou.
Fará
companhia a Lula e à falange de petistas que delinquiram na luta pela preservação
do poder. Ela bem que avisara na campanha: “Para vencer as eleições, faremos o
diabo”. Fizeram. Não pode se queixar de agora estar indo para o inferno.
Não
apenas tinha conhecimento do dinheiro “contaminado” (expressão de Marcelo
Odebrecht), como negociou diretamente com ele o repasse das propinas
extorquidas da Petrobras, indicando sucessivamente seus intermediários para
embolsá-las: Antonio Palocci e, depois, o então ministro da Fazenda, Guido
Mantega.
Palocci
já está preso, embora não por esse delito específico, que agravará seu
contencioso penal. Mantega foi preso e depois solto, mas deve retornar em breve
ao xadrez.
O
delito não se resume ao dinheiro contaminado na origem, num total de R$ 150 milhões, mas também (e
sobretudo) ao que remunerava: a medida provisória 470, editada em 2009, ainda
na vigência do governo Lula, garantindo benefícios à Brasken, empresa do grupo
Odebrecht, relativos ao crédito prêmio de IPI e IPI Zero. O texto da MP foi
elaborado pela área jurídica da própria Odebrecht.
O
pagamento pelo benefício ficou acertado para a campanha de 2014, a Dilma e sua
equipe. Segundo as planilhas da Odebrecht, desse total, Lula teria embolsado R$ 23 milhões e Palocci R$ 8 milhões. Odebrecht confirmou
também ter dado R$ 10 milhões ao
então presidente do PMDB e candidato a vice, Michel Temer, que confirma a
doação, mas alega ter sido legítima e registrada no TSE.
Rui
Fabiano é jornalista
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A
defesa de Temer se empenha em separar as contas de campanha, dispondo-se a
comprovar a diversidade de métodos e fontes. Ainda que o consiga, talvez não
seja suficiente.
A
jurisprudência, que já cassou chapas de governadores e prefeitos em situações
análogas, é a de considerar as campanhas de presidente e vice como uma coisa
só.
O
impacto dessas revelações, cuja novidade está apenas no fato de agora estarem
oficializadas, será potencializado com a divulgação das delações premiadas dos
77 executivos da mesma Odebrecht, prometida para já pelo procurador-geral
Rodrigo Janot.
Pelo
que já vazou, vem aí uma descarga de nitroglicerina, sem precedentes, que
pegará meio Congresso, incluindo seus presidentes, Rodrigo Maia (Câmara) e
Eunício Oliveira (Senado), além de seus maiores figurões. Temer é também
citado, assim como seu chefe da Casa Civil, Elizeu Padilha, alvo recente de
acusação de recebimento de propina de R$
4 milhões, feita por um ex-colaborador da Presidência e amigo íntimo de
Temer, o advogado José Yunes.
Dentro
do imponderável que governa o país, não se exclui a hipótese de cassação do
mandato do presidente da república e da impossibilidade de sua linha sucessória
parlamentar sucedê-lo, o que remeteria a transição à presidente do STF, Carmem
Lúcia.
Ela
teria de convocar eleições em 60 dias, por via indireta, pelo Congresso, cuja
metade (ou quase isso) estará sob graves acusações de corrupção. Nessa
hipótese, não se sabe o que fazer, nem mesmo como estará o país. Tudo é
possível, menos nada.
Em
contraste, a área econômica tem obtido bons resultados, ameaçados, no entanto,
pelo terremoto na política. A percepção desses ganhos pelo público não é
imediata e corre o risco de não se consumar antes mesmo de ser percebida. Em
tal contexto, as chances de reformas polêmicas como a trabalhista e a
previdenciária se reduzem significativamente. A república está contaminada.
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