QUADRO: ALDEMIR MARTINS |
O APANHADOR DE DESPERDÍCIOS
Uso
a palavra para compor meus silêncios.
Não
gosto das palavras
fatigadas
de informar.
Dou
mais respeito
às
que vivem de barriga no chão
tipo
água pedra sapo.
Entendo
bem o sotaque das águas
Dou
respeito às coisas desimportantes
e
aos seres desimportantes.
Prezo
insetos mais que aviões.
Prezo
a velocidade
das
tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho
em mim um atraso de nascença.
Eu
fui aparelhado
para
gostar de passarinhos.
Tenho
abundância de ser feliz por isso.
Meu
quintal é maior do que o mundo.
Sou
um apanhador de desperdícios:
Amo
os restos
como
as boas moscas.
Queria
que a minha voz tivesse um formato
de
canto.
Porque
eu não sou da informática:
eu
sou da invencionática.
Só
uso a palavra para compor meus silêncios.
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