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-- E o senhor, Velho
Marinheiro, está animado com as próximas eleições?
-- Seu Romualdo Bastos,
não me cutuque com vara curta... Quem pode se animar com uma porcaria dessas? É
a farsa de sempre – respondeu-lhe nosso Lobo do Mar aposentado, com sua
impaciência histórica, por todos conhecida, enquanto sacava do bolso da camisa um
papelucho.
-- Farsa! Por quê? –
quis saber o maior cruzadista da Vila Invernada, talvez o único de toda região.
-- Vou lhe dar uns
números, que minha neta pegou pelo computador. Em São Paulo, teremos 1.339 candidatos a deputado federal e 1.962 candidatos a deputado estadual.
Ora, quem tem tantas opções, a bem da verdade, não tem nenhuma. É uma vergonha,
essa nossa legislação. A palhaçada se repete há anos e anos, e continuará sendo
assim por muito tempo. O Congresso Nacional não tem interesse em mudar as
regras. A cambada vai para o rádio e televisão falar qualquer besteira que o
partido lhes mande dizer em 15 segundos.
Quase ninguém presta atenção no que é dito. Muitos desligam os aparelhos. Os
que tentam acompanhar, no final do programa, não sabem quem disse o quê.
Francamente, temos uma democracia muito da mixuruca.
-- Salvo engano meu, o
senhor é contra a pluralidade...
À beira de um ataque de
nervos (os dois nunca se bicaram) e já à caça do bicho de pé imaginário, o
Velho Marinheiro pediu mais uma cerveja e um aperitivo para o Carneiro, dono do
boteco. E emendou:
-- Seu Romualdo Bastos,
no fundo, eu o entendo bem. Fazedor obstinado de palavras cruzadas, o senhor adora
decorar inutilidades, e se gaba disso. Está diante de um prato cheio. Mas quero
ver o senhor, com essa sua memória de elefante, gravar nome, número e partido
de toda aquela gente. O repto está feito. Se conseguir, uma rodada de cerveja,
aperitivo e tremoço fica por minha conta. Ao trabalho. (2014)
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