terça-feira, 6 de setembro de 2016

MEMÓRIA DE ELEFANTE


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 -- E o senhor, Velho Marinheiro, está animado com as próximas eleições?

-- Seu Romualdo Bastos, não me cutuque com vara curta... Quem pode se animar com uma porcaria dessas? É a farsa de sempre – respondeu-lhe nosso Lobo do Mar aposentado, com sua impaciência histórica, por todos conhecida, enquanto sacava do bolso da camisa um papelucho.

-- Farsa! Por quê? – quis saber o maior cruzadista da Vila Invernada, talvez o único de toda região.

-- Vou lhe dar uns números, que minha neta pegou pelo computador. Em São Paulo, teremos 1.339 candidatos a deputado federal e 1.962 candidatos a deputado estadual. Ora, quem tem tantas opções, a bem da verdade, não tem nenhuma. É uma vergonha, essa nossa legislação. A palhaçada se repete há anos e anos, e continuará sendo assim por muito tempo. O Congresso Nacional não tem interesse em mudar as regras. A cambada vai para o rádio e televisão falar qualquer besteira que o partido lhes mande dizer em 15 segundos. Quase ninguém presta atenção no que é dito. Muitos desligam os aparelhos. Os que tentam acompanhar, no final do programa, não sabem quem disse o quê. Francamente, temos uma democracia muito da mixuruca.

-- Salvo engano meu, o senhor é contra a pluralidade...

À beira de um ataque de nervos (os dois nunca se bicaram) e já à caça do bicho de pé imaginário, o Velho Marinheiro pediu mais uma cerveja e um aperitivo para o Carneiro, dono do boteco. E emendou:

-- Seu Romualdo Bastos, no fundo, eu o entendo bem. Fazedor obstinado de palavras cruzadas, o senhor adora decorar inutilidades, e se gaba disso. Está diante de um prato cheio. Mas quero ver o senhor, com essa sua memória de elefante, gravar nome, número e partido de toda aquela gente. O repto está feito. Se conseguir, uma rodada de cerveja, aperitivo e tremoço fica por minha conta. Ao trabalho. (2014) 

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