Foto de Gustavo Jansson
da tela de Jorge Chueri
|
Sempre que Romualdo Bastos entra no bar do Carneiro, os fregueses da
espelunca se agitam, querem saber do maior cruzadista da Vila Invernada o que
andava fazendo, por que sumira. Naquele sábado, não foi diferente. Para garantir
a atenção e aplausos, ele tratou, como sempre faz, de pagar aperitivos para os ouvintes,
invariavelmente prontos e sedentos. O sucesso, nessas ocasiões, é certo.
-- Queridos, ando bastante ocupado. Além de desenvolver o estatuto da futura
“Escola Romualdo Bastos de Palavras Cruzadas”, eu tenho me dedicado ao estudo
de adágios.
-- Que diabo é isso, mestre? – quis saber Toninho Mula.
Romualdo Bastos estufou o peito e fez aquela cara de intelectual de
subúrbio:
-- Toninho, caro Toninho: você vai longe, é movido pela curiosidade, e a
curiosidade é a mãe do saber. Parabéns. Adágios são ditados, ditos, rifões,
máximas. É uma forma de sabedoria popular.
Embalado pelos aplausos, Romualdo Bastos pediu ao Carneiro que servisse
mais uma rodada à platéia. E continuou a falação:
-- Antes que nosso querido Toninho Mula me pergunte por que tenho me
dedicado aos adágios, me explico: é para ter sempre um conselho a dar aos
amigos necessitados. É uma maneira de ajudar quem precisa de apoio, de orientar
os desorientados, de dar alento aos carentes.
A comoção interesseira foi geral. Ela só não prosperou por que nosso
Velho Marinheiro resolveu dar seu pitaco:
-- Seu Romualdo Bastos, essa coisa de conselho quase nunca tem
serventia. De que adianta pedir “calma” ao ansioso? Ora, que servidão tem dizer
ao cachaceiro que a uca em excesso faz mal à saúde? Qual a utilidade de alertar
o desajuizado de que, sem tino, não se chega a lugar algum? O ansioso precisa
de remédio; o borracho, idem. Tolos, como se sabe, não têm cura. Mas, vou
contribuir com seus estudos, anote essa: “O professor só aparece quando o aluno está pronto”.
Até mais ver.
(Orlando Silveira –
outubro de 2015)
ótimo o seu blog..adorei.. beijo/rosa pena
ResponderExcluir