O
ALFAIATE E A COSTUREIRA
Publicado
em “Diário do Poder”
(Por Carlos Chagas) A
sucessão de manifestações contrárias ao presidente Michel Temer atravessou o
Sete de Setembro e entrará pelo fim de semana. Com o adendo de que o número de
manifestantes não diminuiu, muito pelo contrário. Além de São Paulo e Rio,
outras capitais engrossam os protestos.
Não
se concluirá, ao menos por enquanto, que a voz das ruas chegará a decibéis
capazes de abalar as estruturas institucionais do país. Mas é bom tomar
cuidado, porque esses fenômenos costumam pegar, como se dizia tempos atrás,
feito sarampo.
Será
ilusão supor os protestos como resultando apenas de iniciativas do PT e forças
afins, reação ao afastamento de Dilma Rousseff. Está no âmago da ocupação das
ruas o protesto à tomada do poder pelas elites, assim como a indignação pela
crise econômica e a falta, pelo Estado, de iniciativas em condições de minorar
as agruras da população. Porque desde a reeleição de Madame nenhum resultado
apareceu favorecendo a recuperação nacional. É verdade que ninguém supôs a
ascensão de Michel Temer como solução para superar as dificuldades do dia a dia
do cidadão comum, a começar pelo desemprego e a elevação do custo de vida. Mas
como o ex-vice-presidente foi alçado ao patamar mais alto das responsabilidades
públicas, azar o dele. Ainda mais por se haver ligado a promessas e programas
que só beneficiam as classes melhor favorecidas.
Crescem
as manifestações populares, reforçadas pela classe média igualmente submetida
às dificuldades econômicas. Onde vão dar, fica difícil imaginar. Pode ser no
crescimento da onda em favor de eleições diretas já. Também pode ser na impossibilidade
de continuarem em vigor as arcaicas instituições legislativas, ou, pior ainda,
as ameaças de retrocesso através da política econômica liberal.
Uma
coisa perece certa: a sociedade não aguenta mais a roupa apertada com que as
elites insistem em obrigá-la a vestir. Com Michel Temer de alfaiate, parece
difícil, como foi com Dilma de
costureira.
CARLOS CHAGAS É JORNALISTA |
Nenhum comentário:
Postar um comentário