IOTTI |
DEFESA DE SANTANA É
UM STRIP-TEASE AO CONTRÁRIO
(Por Josias de Souza) O
depoimento prestado por João Santana a Sérgio Moro teve a aparência de um
strip-tease ao contrário. O marqueteiro do PT entrou na sala de audiências nu.
E passou a se vestir com o maior despudor na frente do juiz da Lava Jato.
Santana já havia ensaiado a cena com seus advogados. “Bota mais!”, orientaram
os defensores. “Bota mais!”
Coube
à força-tarefa da Lava Jato despir Santana. Seu umbigo veio à luz quando os
investigadores farejaram a conta secreta que mantinha na Suíça. Seguiu-se um
desnudamento progressivo, em camadas. De repente, o mago do marketing estava — horror,
frisson! — com as vergonhas totalmente expostas.
Pelado
involuntário, Santana foi recolhido à carceragem de Curitiba antes que tivesse
tempo de se preparar para a nudez. Os US$ 7,5 milhões roubados da Petrobras que
os investigadores encontraram entesourados em sua conta suíça dificultaram-lhe
os movimentos. Sem jogo de corpo, Santana rogou a Moro que não o filmasse. Foi
atendido.
O
juiz concordou em gravar apenas o áudio do interrogatório. “É preciso rasgar o
véu de hipocrisia que cobre as relações políticas e eleitorais no Brasil e no
mundo”, disse Santana a alturas tantas, pousando a metáfora como um eufemismo
sobre sua reputação em frangalhos. Há “caixa dois” em 98% das campanhas
eleitorais, declarou.
Faltando-lhe
melhor ideia, Santana encontrou em Duda Mendonça uma estratégia prêt-à-porter,
pronta para usar. Pilhado recebendo verbas no exterior de Marcos ‘Mensalão’
Valério, Duda também fez do caixa dois sua armadura. Para Santana, não se deve
abandonar uma desculpa esfarrapada só porque saiu de moda.
O
marqueteiro do petrolão encurtou um pouco a bainha, alargou nos ombros, folgou
na cintura, colocou uns babados de renda… Pronto! A desculpa está nova em
folha. A corrupção, a lavagem de dinheiro, a evasão de divisas, a sonegação de
impostos… tudo isso vira um mero “deslize” de caixa dois.
|
O
diabo é que João Santana teve a má sorte de ser arrastado para o centro do
palco num instante em que o país está de saco cheio de truques. Sérgio Moro e a
plateia notaram que o modelito recauchutado por Santana, com mais de dez anos
de uso, já não orna com os novos tempos.
“O
que eu não entendo e não me conformo é com o fato de eu e minha mulher estarmos
sendo acusados, injustamente, de corrupção, formação de organização criminosa e
de lavagem de dinheiro”, queixou-se Santana a Moro. “De estarmos sendo tratados
como criminosos perigosos. E de estarmos servindo, involuntariamente, aos
interesses dos que sempre tentaram ligar o marketing político a atividades obscuras
e antiéticas.”
Suprema
ironia: na propaganda eleitoral das campanhas presidenciais do PT, Santana
esgrimiu a tese segundo a qual a lama escorre na República porque Lula e Dilma
soltaram as rédeas da PF e vitaminaram a Procuradoria. Agora, queixa-se das
injustiças da vida. A despeito dos seus esforços, continua nu em cena.
Nenhum comentário:
Postar um comentário