ERa UMA VEZ JOANA
Zé Paulo passou a maior parte dos seus
muitos anos ouvindo da mamãe e do papai coisas assim:
1)
Ainda não é momento, querido;
2)
Tenha paciência, meu filho, sua hora chegará;
3)
Para que tanta pressa? O mundo não vai acabar amanhã;
4)
Não se arrisque: deixe para fazer essa viagem, quando tiver uma
sólida condição financeira, entendeu?
5)
Esqueça a Joana, não é mulher para você. Muito assanhada;
6)
Filho, vocação é dinheiro no bolso. Faça Direito, como seu pai;
7)
Etc.
Toda vez – e não foram poucas vezes
– em que pensou em se rebelar, em por fim na intromissão indevida, Zé Paulo
abortou a ideia. O coração do pai era fraco; o diabetes da mãe, alto. Não
suportariam tamanha desfeita de quem tanto amavam. Além disso, os velhos já
eram velhos, porque se casaram velhos. Zé Paulo veio à luz mais tarde ainda,
porque naquele tempo apenas “aquelas" mulheres engravidavam sem o alvará do padre.
A tática de Zé Paulo – a de nunca
contrariá-los – deu resultados. Os velhos foram longe. Morreram, no mesmo
semestre, com 185 anos: ela com 90, ele com 95. Certo de que fez o certo, Zé
Paulo vivia repetindo para quem quisesse ouvir que papai fora na frente para
preparar o caminho para mamãe, nunca vira amor igual. Às vezes, lembrava-se das
viagens que não fez e do fogo indômito de Joana. Mas sem qualquer laivo de
arrependimento. Fora bem domesticado. (OS – atualizado em julho/2016)
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