terça-feira, 26 de julho de 2016

QUASE HISTÓRIAS


ERa UMA VEZ JOANA

Zé Paulo passou a maior parte dos seus muitos anos ouvindo da mamãe e do papai coisas assim:

1)    Ainda não é momento, querido;
2)    Tenha paciência, meu filho, sua hora chegará;
3)    Para que tanta pressa? O mundo não vai acabar amanhã;
4)    Não se arrisque: deixe para fazer essa viagem, quando tiver uma sólida condição financeira, entendeu?
5)    Esqueça a Joana, não é mulher para você. Muito assanhada;
6)    Filho, vocação é dinheiro no bolso. Faça Direito, como seu pai;
7)    Etc.

Toda vez – e não foram poucas vezes – em que pensou em se rebelar, em por fim na intromissão indevida, Zé Paulo abortou a ideia. O coração do pai era fraco; o diabetes da mãe, alto. Não suportariam tamanha desfeita de quem tanto amavam. Além disso, os velhos já eram velhos, porque se casaram velhos. Zé Paulo veio à luz mais tarde ainda, porque naquele tempo apenas “aquelas" mulheres engravidavam sem o alvará do padre.

A tática de Zé Paulo – a de nunca contrariá-los – deu resultados. Os velhos foram longe. Morreram, no mesmo semestre, com 185 anos: ela com 90, ele com 95. Certo de que fez o certo, Zé Paulo vivia repetindo para quem quisesse ouvir que papai fora na frente para preparar o caminho para mamãe, nunca vira amor igual. Às vezes, lembrava-se das viagens que não fez e do fogo indômito de Joana. Mas sem qualquer laivo de arrependimento. Fora bem domesticado. (OS – atualizado em julho/2016)



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