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“E
assim, aos poucos, ela se esquece dos socos, pontapés, golpes baixos que a vida
lhe deu, lhe dará. A moça - que não era Capitu, mas também tem olhos de ressaca
- levanta e segue em frente. Não por ser forte, e sim pelo contrário... por
saber que é fraca o bastante para não conseguir ter ódio no seu coração, na sua
alma, na sua essência. E ama, sabendo que vai chorar muitas vezes ainda.
Afinal, foi chorando que ela, você e todos os outros, vieram ao mundo.”
***
“Tudo
isso dói. Mas eu sei que passa, que se está sendo assim é porque deve ser
assim, e virá outro ciclo, depois.
Para
me dar força, escrevi no espelho do meu quarto: 'Tá certo que o sonho acabou,
mas também não precisa virar pesadelo, não é?' É o que estou tentando
vivenciar.
Certo,
muitas ilusões dançaram - mas eu me recuso a descrer absolutamente de tudo, eu
faço força para manter algumas esperanças acesas, como velas. Também não quero
dramatizar e fazer dos problemas reais monstros insolúveis, becos-sem-saída.
Nada
é muito terrível. Só viver, não é?
A
barra mesmo é ter que estar vivo e ter que desdobrar, batalhar um jeito
qualquer de ficar numa boa. O meu tem sido olhar pra dentro, devagar, ter muito
cuidado com cada palavra, com cada movimento, com cada coisa que me ligue ao de
fora. Até que os dois ritmos naturalmente se encaixem outra vez e passem a
fluir.
Porque
não estou fluindo.”
***
Caio
Fernando Loureiro de Abreu (Santiago do Boqueirão, RS, 1948 - Porto Alegre, RS,
1996). Contista, romancista, dramaturgo, jornalista. Muda-se para Porto Alegre,
em 1963. Publica seu primeiro conto, O Príncipe Sapo, na revista Cláudia, em
1963. A partir de 1964 cursa Letras e Arte Dramática na Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (UFRGS), mas abandona ambos os cursos para dedicar-ser ao
jornalismo. Transfere-se para São Paulo em 1968, após ser selecionado, em concurso
nacional, para compor a primeira redação da revista Veja. No ano seguinte,
perseguido pela ditadura militar, refugia-se na chácara da escritora Hilda
Hilst (1930-2004), em Campinas, São Paulo. A partir daí passa a levar uma vida
errante no Brasil e no exterior. Fascinado pela contracultura, viaja pela
Europa de mochila nas costas, vive em comunidade, lava pratos em Estocolmo, e
considera a possibilidade de viver de artesanato em uma praça de Ipanema. Na
década de 1980, escreve para algumas revistas e torna-se editor do semanário
Leia Livros. Em 1990, vai a Londres, lançar a tradução inglesa de Os Dragões
Não Conhecem o Paraíso. Vai para a França, em 1994, a convite da Maison des
Écrivains Étrangers et des Traducteurs de Saint Nazaire, onde escreve a novela
Bien Loin de Marienbad. Em setembro do mesmo ano escreve em sua coluna semanal,
no jornal O Estado de S. Paulo, uma série de três cartas denominadas Cartas
para Além do Muro, onde declara ser portador do vírus HIV.
(FONTE:enciclopédia.itaucultural.org.br)
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