NÃO HÁ VAGAS
O
preço do feijão
não
cabe no poema. O preço
do
arroz
não
cabe no poema.
Não
cabem no poema o gás
a
luz o telefone
a
sonegação
do
leite
da
carne
do
açúcar
do
pão
O
funcionário público
não
cabe no poema
com
seu salário de fome
sua
vida fechada
em
arquivos.
Como
não cabe no poema
o
operário
que
esmerila seu dia de aço
e
carvão
nas
oficinas escuras
-
porque o poema, senhores,
está
fechado:
“não
há vagas”
Só
cabe no poema
o
homem sem estômago
a
mulher de nuvens
a
fruta sem preço
O
poema, senhores,
não
fede
nem
cheira
TRADUZIR-SE
Uma
parte de mim
é
todo mundo:
outra
parte é ninguém:
fundo
sem fundo.
Uma
parte de mim
é
multidão:
outra
parte estranheza
e
solidão.
Uma
parte de mim
pesa,
pondera:
outra
parte
delira.
Uma
parte de mim
almoça
e janta:
outra
parte
se
espanta.
Uma
parte de mim
é
permanente:
outra
parte
se
sabe de repente.
Uma
parte de mim
é só
vertigem:
outra
parte,
linguagem.
Traduzir-se
uma parte
na
outra parte
-
que é uma questão
de
vida ou morte -
será
arte?
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