DO DESEJO
(Trechos)
Porque
há desejo em mim, é tudo cintilância.
Antes,
o cotidiano era um pensar alturas
Buscando
Aquele Outro decantado
Surdo
à minha humana ladradura.
Visgo
e suor, pois nunca se faziam.
Hoje,
de carne e osso, laborioso, lascivo
Tomas-me
o corpo. E que descanso me dás
Depois
das lidas. Sonhei penhascos
Quando
havia o jardim aqui ao lado.
Pensei
subidas onde não havia rastros.
Extasiada,
fodo contigo
Ao
invés de ganir diante do Nada.
IV
Se
eu disser que vi um pássaro
Sobre
o teu sexo, deverias crer?
E
se não for verdade, em nada mudará o Universo.
Se
eu disser que o desejo é Eternidade
Porque
o instante arde interminável
Deverias
crer? E se não for verdade
Tantos
o disseram que talvez possa ser.
No
desejo nos vêm sofomanias, adornos
Impudência,
pejo. E agora digo que há um pássaro
Voando
sobre o Tejo. Por que não posso
Pontilhar
de inocência e poesia
Ossos,
sangue, carne, o agora
E
tudo isso em nós que se fará disforme?
V
Existe
a noite, e existe o breu.
Noite
é o velado coração de Deus
Esse
que por pudor não mais procuro.
Breu
é quando tu te afastas ou dizes
Que
viajas, e um sol de gelo
Petrifica-me
a cara e desobriga-me
De
fidelidade e de conjura. O desejo
Este
da carne, a mim não me faz medo.
Assim
como me veio, também não me avassala.
Sabes
por quê? Lutei com Aquele.
E
dele também não fui lacaia.
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