terça-feira, 5 de julho de 2016

QUASE HISTÓRIAS (XLIV)

INTERNET
A LISTA DE VALDOMIRO

Valdomiro era uma espécie de carpideira às avessas. Fazia o que fazia, sem remuneração, porque se achava engraçado, engraçado demais – uma fantasia alimentada pelos familiares e conhecidos, a maioria de humor abaixo de qualquer suspeita. É provável que muitos rissem de suas besteiras na esperança vã de serem poupados.

Valdomiro adorava velórios. Era dos primeiros a chegar, e dos últimos a sair. Gostava de contar piadas. Mas seu esporte predileto mesmo era ir de roda em roda mostrando uma lista que trazia de casa, com os nomes dos futuros defuntos da família.

Nunca entendi como alguém, em sã consciência, podia achar graça daquilo.

Valdomiro, no entanto, não marcou presença no velório de um parente muito próximo. O que deu margem a especulações várias, inclusive sobre sua eventual morte. Os que defendiam tal possibilidade, em especial os que frequentavam a lista de Valdomiro, no íntimo, torciam para estarem certos. 

Minutos antes do sepultamento, chegaram filha e genro do Valdomiro. E nada do homem.  

Sua filha foi logo avisando:

-- Não se preocupem, está tudo bem. Papai foi ao Nordeste, a passeio.  Lamentou muito não poder vir ao velório. Não havia passagens de avião. Mas pediu que lhes avisasse que estará presente na missa de Sétimo Dia. Com a lista atualizada. (OS)


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