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A LISTA DE VALDOMIRO
Valdomiro
era uma espécie de carpideira às avessas. Fazia o que fazia, sem remuneração,
porque se achava engraçado, engraçado demais – uma fantasia alimentada pelos
familiares e conhecidos, a maioria de humor abaixo de qualquer suspeita. É
provável que muitos rissem de suas besteiras na esperança vã de serem poupados.
Valdomiro
adorava velórios. Era dos primeiros a chegar, e dos últimos a sair. Gostava de
contar piadas. Mas seu esporte predileto mesmo era ir de roda em roda mostrando
uma lista que trazia de casa, com os nomes dos futuros defuntos da família.
Nunca
entendi como alguém, em sã consciência, podia achar graça daquilo.
Valdomiro,
no entanto, não marcou presença no velório de um parente muito próximo. O que
deu margem a especulações várias, inclusive sobre sua eventual morte. Os que
defendiam tal possibilidade, em especial os que frequentavam a lista de
Valdomiro, no íntimo, torciam para estarem certos.
Minutos
antes do sepultamento, chegaram filha e genro do Valdomiro. E nada do homem.
Sua
filha foi logo avisando:
--
Não se preocupem, está tudo bem. Papai foi ao Nordeste, a passeio. Lamentou muito não poder vir ao velório. Não
havia passagens de avião. Mas pediu que lhes avisasse que estará presente na
missa de Sétimo Dia. Com a lista atualizada. (OS)
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