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DILMA MUDA A VERSÃO SOBRE
CAIXA DOIS
DE CAMPANHA COMO QUEM TROCA
DE SAPATOS
(Por Josias de Souza) Em
matéria de contabilidade de campanha, a virtude de Dilma Rousseff é apenas um
trissílabo que torna a vida mais virtual. Num momento, o caixa dois eleitoral
não existe. Noutro instante, ele pode existir. Nessa matéria, Dilma muda de
versão como quem troca de sapatos.
Em
abril de 2015, numa entrevista à repórter Patricia Janiot, do canal CNN em
espanhol, Dilma disse ter “certeza” de que o dinheiro roubado da Petrobras não
chegara às arcas do seu comitê eleitoral. Eis o que madame declarou à época:
“Se
dinheiro de suborno chegar a alguém, essa pessoa tem que ser responsabilizada.
É assim que tem que ser. Eu tenho absoluta certeza que a minha campanha não tem
dinheiro de suborno. Isso não significa que eu me coloque acima de qualquer
brasileiro, cidadão ou cidadã. Eles têm que prestar contas do que fazem. E eu
prestei. Para quem? Para o Tribunal Superior Eleitoral. Entreguei todas as
minhas contas de campanha. Elas foram auditadas e foram aprovadas.”
Nessa
época, Dilma amargava citações em depoimentos de dois delatores da Lava Jato. O
ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef. As
investigações empacaram porque o ministro Teori Zavascki, relator da Lava jato
no STF, avalizou o entendimento do procurador-geral Rodrigo Janot, para quem
Dilma não poderia ser processada por fatos ocorridos fora do exercício do
mandato.
O
tempo passou. E surgiram novos delatores. Entre eles Ricardo Pessoa. Dono da
construtora UTC, Pessoa informou à força-tarefa da Lava Jato que foi coagido
pelo petista Edinho Silva a repassar R$ 7,5 milhões desviados da Petrobras para
a campanha de Dilma. Deu-se na sucessão de 2014, quando Edinho respondia pela
tesouraria do comitê reeleitoral de Dilma. Ambos insistiram: não há caixa dois.
Na
semana passada, a coisa se complicou. Preso em Curitiba desde fevereiro, o
próprio João Santana, marqueteiro de Lula e Dilma, destravou parcialmente a
língua. Disse ter recebido numa conta secreta na Suíça US$ 4,5 milhões
surripiados da Petrobras. Sem rodeios, informou que se tratava de caixa dois da
campanha presidencial de Dilma em 2010.
Foi
o bastante para que a “certeza” de Dilma ganhasse a consistência de um pote de
gelatina: “Se houve pagamento, não foi com meu conhecimento”, ela anotou no
Twitter. Nesta quarta-feira (27), em entrevista radiofônica, Dilma como que
lavou as mãos. E fez sumir o sabonete.
Declarou
o seguinte sobre a confissão de seu marqueteiro: “Se ele recebeu os US$ 4,5
milhões que diz que recebeu não foi da organização da minha campanha. Porque
ele diz que recebeu isso em 2013. Como você sabe, a campanha começa em 2010 e,
até o final do ano, ela é encerrada.”
JOSIAS DE SOUZA |
Súbito,
Dilma jogou a sujeira na portaria do PT: “A partir do momento em que a campanha
é encerrada, tudo que ficou pendente de pagamento passa a ser responsabilidade
do partido. A minha campanha não tem a menor responsabilidade sobre em que
condições pagou-se a dívida remanescente de 2010. Não é a mim que tem que
perguntar isso. Com quem ele tratou isso foi com a tesouraria do PT, como disse
o próprio Santana.”
No
depoimento que prestou a Sérgio Moro, juiz da Lava Jato, o marqueteiro de Dilma
disse que 98% das campanhas eleitorais operam com dinheiro repassado por baixo
da mesa. Afirmou que jamais conseguiu se livrar dessa prática. Significa dizer
que manuseou dinheiro ilegal nas três campanhas presidenciais que ajudou o PT a
vencer: Lula (2006) e Dilma (2010 e 2014).
Ficou
entendido que nenhum político pode atirar pedra nos outros, porque todos têm
telhado de vidro. Verdade. No caso de Dilma, porém, as evidências são tão
abundantes que ela tem não apenas telhado, mas janela, porta, terninho, blusa,
e sapatos de vidro.
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