AMARILDO |
É PRECISO ANEXAR ÀS MÁS
LEMBRANÇAS
DO PASSADO A PRESIDENTE QUE
TENTOU
DINAMITAR O CAMINHO DO
FUTURO
(Por AUGUSTO NUNES) A
perda do poder, a deserção dos aliados, a diáspora dos áulicos, o sumiço dos
convites e das cerimônias oficiais, a interrupção da farra aérea, os buracos na
agenda agora sem serventia, a falta do que fazer no palácio assombrado — esse
clima de velório que precede a queda de um governante costuma abalar o mais
equilibrado dos estadistas. Era inevitável que a mente nada brilhante de Dilma
Rousseff sofresse danos consideráveis, mas ninguém imaginou que o estrago
chegaria às dimensões que alcançou.
Só
uma cabeça severamente avariada poderia parir o falatório que atribuiu a
decretação do impeachment pelo Congresso a uma conspiração urdida por deputados
e senadores para submeter o Brasil a uma ditadura parlamentarista — um
singularíssimo regime totalitário controlado por parlamentares eleitos
diretamente pelo povo. Parece mentira? Pois releiam a sopa de letras que custou
a Dilma mais uma internação no Sanatório Geral:
“Por
trás desse golpe, tem uma ambição muito forte pelo parlamentarismo. No Brasil,
todas as transformações ocorreram pelo voto majoritário para presidente. No
voto proporcional, há uma imensa quantidade de filtros, oligarquias regionais,
filtros de segmentos que fazem com que, na maioria das vezes, o Parlamento no
Brasil seja mais conservador que o Executivo”.
“Perderá
dinheiro quem apostar que o neurônio solitário
guarda
na memória os nomes de Brochado da Rocha e Hermes Lima”
Como
constatou o comentário de 1 minuto para o site de VEJA, o palavrório reafirma
que Dilma deveria ter sido demitida já no primeiro dia do primeiro mandato, no
momento em que abriu a boca para tentar juntar sujeito e predicado. Não pode
ser presidente da República quem não sabe falar a língua oficial do país.
Tampouco se pode entregar o Brasil a uma incapaz capaz de tudo. Assassinar a
História, por exemplo. Ou torturar os fatos com perturbadora selvageria.
Se,
como informa um trecho do pronunciamento de hospício, existe “uma ambição muito
forte pelo parlamentarismo” por trás dos procedimentos constitucionais que
Dilma insiste em chamar de golpe, a declarante está obrigada a identificar os
ambiciosos fantasiados de representantes do povo. Eduardo Cunha é carta fora do
baralho. Renan Calheiros é um bom companheiro da Assombração do Alvorada.
Rodrigo Maia foi apoiado pelo PT no segundo turno da eleição na Câmara. Como
FHC foi senador há muito tempo, Dilma acabou de inventar o complô sem
comandantes.
Desde
a Proclamação da República, o Executivo só não controlou o Legislativo durante
os períodos de crise que precipitaram o fim de governos sem sustentação no
Congresso. Foi assim com Getúlio em 1954, com Jânio Quadros em 1961, com
Fernando Collor em 1982 e com Dilma Rousseff desde o início do segundo mandato.
Abstraídas tais exceções — além do Estado Novo e da ditadura militar —, quem
sempre deu as cartas no Brasil republicano foi o inquilino do gabinete
presidencial.
O
presidencialismo imperial vigorou até mesmo entre setembro de 1961, quando o
Congresso aprovou a instauração do regime parlamentarista para remover o veto
dos chefes militares à posse do vice-presidente João Goulart, e janeiro de
1963, quando um plebiscito devolveu a Jango os poderes desmaiados. Formalmente,
o país teve três primeiros-ministros em 17 meses. É até possível que Dilma
lembre que um deles foi Tancredo Neves. Perderá dinheiro quem apostar que o
neurônio solitário guarda na memória os nomes de Brochado da Rocha e Hermes
Lima.
“Dilma
fez o que pôde para desonrar o cargo que ocupou
e dinamitar
os caminhos do futuro”
O
tedioso velório da mulher condenada pelo povo à morte política é o derradeiro
tapa na cara do país que ela quase destruiu. As delinquências que amparam
juridicamente o impeachment são quase irrelevantes se confrontadas com as
anotações em tons de cinza na alentada folha de desserviços à nação. A pior
chefe de governo desde o Descobrimento conseguiu o aparentemente impossível:
expandir a herança maldita que Lula legou.
O
legado ampliado por Dilma inclui, entre incontáveis abjeções, o aparelhamento
da máquina administrativa por liberticidas gatunos, a infestação de ladrões e
ineptos disfarçados de ministros, a transformação de amigas quadrilheiras a
servidoras da pátria, a entrega da chave do cofre a parceiros fora-da-lei, a
inflação sem controle, o mundaréu de obras abandonadas, os 12 milhões de
desempregados, a política externa da canalhice, o sistema de saúde em
frangalhos, o sistema de ensino reduzido a usina de idiotas com diploma, a
economia putrefata, a roubalheira institucionalizada e a agonia da Petrobras
devastada pelo maior esquema corrupto de todos os tempos, fora o resto.
Dilma
fez o que pôde para desonrar o cargo que ocupou e dinamitar os caminhos do
futuro. É preciso abreviar os gemidos da alma penada, e anexá-la o quanto antes
às más lembranças do passado.
AUGUSTO NUNES É JORNALISTA |
Nenhum comentário:
Postar um comentário