segunda-feira, 4 de julho de 2016

COISAS DA VIDA

FOTO: CRISTOPHE SIMON

O SERMÃO

(Por Violante Pimentel) Numa Igreja do centro de uma capital nordestina, o Padre, recém-chegado àquela Paróquia, começou o Sermão da Missa do domingo, visivelmente irritado com a situação política do Brasil.

- Irmãos, estamos hoje aqui reunidos, para falar dos "Fariseus", aquele povo desgraçado, vagabundo, mentiroso, corrupto e ladrão, como esses políticos que tomaram conta do Brasil.

Os fieis vibraram com as palavras do padre.

Os petistas se retiraram, e saíram xingando o Vigário. Houve até discussão na porta da Igreja. Depois que todos saíram, o Prefeito se dirigiu à Casa Paroquial, para conversar com o Padre Bento sobre o ocorrido. Reclamou o tom político das suas palavras, e pediu ao Padre que não repetisse esse tipo de Sermão..

- Padre, por favor, os fiéis que assistiram à Missa são pessoas trabalhadoras, sindicalistas e funcionários públicos. Ganham bem e dão lucro às lojas e restaurantes da cidade. Todos saíram decepcionados com o tom do seu Sermão. Evite que isso se repita, por favor!!!

Durante toda a semana, a cidade não falou de outra coisa, senão do Sermão do Padre Bento, na Missa do domingo. As pessoas estavam curiosas para assistirem ao próximo Sermão. Uma parte da cidade estava muito satisfeita, pois muitos moradores detestavam os petistas. O zum zum zum foi grande, e os comentários se propagaram.

Finalmente, chegou novamente o domingo, e o Prefeito foi à Sacristia antes de começar a Missa. Pediu, novamente, ao Vigário:

- Padre, não se esqueça da conversa que nós tivemos. Não fale dos políticos, nem de política. O povo fica sentido e vai terminar se afastando da Igreja! E as ofertas para as obras assistenciais vão diminuir!!! A coleta já está mais pobre.

A Missa começou e chegou a hora do Sermão. O Padre começou a falar:

- Irmãos, estamos aqui reunidos hoje, para falar de uma pessoa da Bíblia: "Maria Madalena", aquela mulher, a prostituta que tentou Jesus, como essas petistas desgraçadas, vagabundas, mentirosas, corruptas e ladras que estão aqui.


Foto do perfil de Violante Pimentel
Violante Pimentel é procuradora 
aposentada do Rio Grande do Norte

Mal o Padre acabou de falar, começaram as discussões e até pancadaria na Igreja., com necessidade de atendimento no Pronto-Socorro local. Mais uma vez, o Prefeito se dirigiu à Sacristia para conversar com o Padre, agora bastante contrariado.

- Padre, pelo amor de Deus! O senhor me prometeu que iria pegar leve! Olha, eu também não morro de amores por político nenhum. São todos iguais!!! Os petistas, então, são complicados, ignorantes, prepotentes, não tem nenhuma ética, mas se o senhor não parar com isso, vou ter que pedir ao Bispo a sua retirada da Paróquia.

Naquela semana, os comentários foram ainda maiores. O povo aguardava com ansiedade o próximo domingo, para ouvir novamente, o Sermão do novo Padre.

Na manhã do domingo, a Igreja ficou lotada. Quase não se conseguia respirar, de tanta gente. Pessoas que há anos não pisavam na igreja, estavam por lá, com terços e santinhos nas mãos e pareciam que eram as mais devotas dos católicos.

O Prefeito entrou na Sacristia, acompanhado por dois policiais e advertiu o Vigário:

- Padre, se o senhor insistir nesse tipo de Sermão político, o senhor será preso!
Quando o Padre apareceu no altar, houve uma tensão generalizada, e cochichos. A Missa começou, e chegou a hora do Sermão. Então, o Padre iniciou a sua fala:

- Irmãos, estamos aqui reunidos hoje, para falar do momento mais importante da vida de Cristo: "a Santa Ceia".

O Prefeito, que estava preocupadíssimo, então, respirou aliviado
- Jesus, naquele momento, disse aos apóstolos: “Esta noite, um de vocês me trairá. Então, João perguntou: “Mestre, serei eu?”

E Jesus respondeu:

- Não, João, não será você.

Então, Pedro perguntou:

- Mestre, serei eu?

E Jesus respondeu:

- Não, Pedro, não será você.

E então, Judas, aquele desgraçado, vagabundo, mentiroso, corrupto e ladrão, que estava vestindo uma túnica toda vermelha, perguntou:

- Cumpanhêro, é eu?

E a pancadaria comeu solta ... !

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