QUASE HISTÓRIAS (XXXVII)

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O RECADO DE FILOMENA

Filomena, 8.5, estava mais arruinada que DKV usado. Não dava o passo. Respirava com dificuldade. Inútil abastecê-la com gasolina aditivada. Filomena, DKV. Mas Filomena não perdera duas coisas: a audição e o gênio malsão. Tinha ouvidos tuberculosos. E a têmpera do pai: mistura de espanhol com italiano. Não mandava recado.

Filomena, da sala, acompanhava com especial atenção, a conversa dos filhos na cozinha. Todos com saco cheio de mamãe. Filomena pediu para que um dos bisnetos levasse a cadeira de rodas até eles. E foi direto ao ponto:

-- Estão com o saco cheio de mim? Então, não peguem mais meu dinheiro. Carlota, você é de uma incompetência ímpar. Ate hoje não arranjou marido pra chamar de seu. Osvaldo, se você bebesse menos, talvez entendesse o que escreve. Paula: deixe de ser besta. Seu diploma foi comprado por mim e por seu pai. Estou a morrer. Quando me for, vão atribuir o fracasso de vocês a quem?

O bisneto levou a cadeira de rodas, Filomena a bordo, para a sala. Os filhos encomendaram pizzas com o dinheiro dela.

LEGUME DEPENDENTE

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Sempre achei que a “dieta dos pontos” – aquela em que a vítima conta e soma as calorias ingeridas ao longo do dia – era uma saída inteligente para o problema crônico do excesso de peso. Afinal, em tese, você pode comer de tudo, desde que não ultrapasse “aquele” ultrajante total de calorias definido por especialistas.

Aí, começam os problemas. Ingerir uma dose generosa de destilado o faz sentir autor de crime hediondo. O total de calorias nela contido equivale a uns três repolhos, no mínimo, ou a não sei quantas abobrinhas etc. Com a barriga roncando, você deixa a alegria de lado e opta pelo refogado. Quando você se dá conta, verduras e legumes passaram a ser sua razão de viver. Vida besta.