TIA DOLORES
Levou uma vida de dores. Pelo menos é
o que dizia, em detalhes e com orgulho. Gabava-se de tomar uma quantidade
gigantesca de remédios, todos os dias, desde... Nem ela se lembrava desde
quando. E a cada semana, segundo seu próprio diagnóstico, o quadro se agravava.
Era uma nova dor que surgia aqui e acolá.
Mas verdade seja dita: reclamava, sim,
mas não muito.
Gostava de exibir aos ouvintes
desatentos aquele ar típico dos falsos resignados. Só ficava irada quando
alguém lhe dizia, para ter fé e paciência, que fulana sofria mais que ela.
Tomava tal afirmação como ofensa das grandes. Ninguém poderia sofrer mais que
ela, segundo a própria: “Seria algo além de humano”.
Na saída, após ter recomendado aos
visitantes que nunca fizessem vistas grossas a nenhum sintoma, “pode ser doença
grave”, arrematava:
-- Voltem sempre. É tão bom bater um
papo tão gostoso como o que tivemos.
CRISTÓVÃO: SENTA!
Ernestina,
companheira de décadas, foi direto ao assunto:
--
Cristóvão, a partir de hoje, você não urina mais de pé. Vai ter que sentar.
-- Por
que isso agora, Ernestina?
-- Você
não acerta uma no vaso.
-- O
urologista me disse que, na minha idade, isso é normal.
--
Então, ele que venha limpar o banheiro.
kkkkkk linda ideia a da Ernestina
ResponderExcluirKKK. Sabia que as mulheres gostariam da ideia. Abração, Lia. Apareça sempre. É um prazer tê-la por aqui.
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