sábado, 6 de junho de 2015

QUASE HISTÓRIAS (XXXIII)


TIA DOLORES

Levou uma vida de dores. Pelo menos é o que dizia, em detalhes e com orgulho. Gabava-se de tomar uma quantidade gigantesca de remédios, todos os dias, desde... Nem ela se lembrava desde quando. E a cada semana, segundo seu próprio diagnóstico, o quadro se agravava. Era uma nova dor que surgia aqui e acolá.

Mas verdade seja dita: reclamava, sim, mas não muito.

Gostava de exibir aos ouvintes desatentos aquele ar típico dos falsos resignados. Só ficava irada quando alguém lhe dizia, para ter fé e paciência, que fulana sofria mais que ela. Tomava tal afirmação como ofensa das grandes. Ninguém poderia sofrer mais que ela, segundo a própria: “Seria algo além de humano”.

Na saída, após ter recomendado aos visitantes que nunca fizessem vistas grossas a nenhum sintoma, “pode ser doença grave”, arrematava:

-- Voltem sempre. É tão bom bater um papo tão gostoso como o que tivemos.


CRISTÓVÃO: SENTA!

Ernestina, companheira de décadas, foi direto ao assunto:

-- Cristóvão, a partir de hoje, você não urina mais de pé. Vai ter que sentar.

-- Por que isso agora, Ernestina?

-- Você não acerta uma no vaso.

-- O urologista me disse que, na minha idade, isso é normal.

-- Então, ele que venha limpar o banheiro.



2 comentários:

  1. Respostas
    1. KKK. Sabia que as mulheres gostariam da ideia. Abração, Lia. Apareça sempre. É um prazer tê-la por aqui.

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