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Com ele, as coisas funcionavam ao contrário.
Nos dias bonitos, de sol e calor, era acometido por uma angústia
profunda. Da varanda do apartamento, observava o vaivém das pessoas nas ruas. E
ele sem coragem de dar o passo, colocar roupa leve, tênis confortável, óculos
de sol, sair por aí, rumo a lugar algum, pelo prazer, ainda que efêmero, de
viver. Amanhã, eu também vou – dizia para si mesmo, sem convicção. Não ia.
Gostava mesmo de tempo frio, garoa fina e gelada. Nesses dias, as
pessoas evitam sair, ruas e parques ficam desertos, crianças não fazem
algazarra, não há quase barulho. Ao não avistar ninguém, então, ao ouvir o
quase silêncio, sentia-se um pouco aliviado. Não estava tão só. E desandava a fazer planos que
nunca colocaria em prática.
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