A
música é clara: perdão foi feito pra gente pedir. Todo mundo também sabe que é
melhor pedir que roubar, muito embora esta pareça ser uma prática mais
lucrativa que aquela. Ao menos entre nós. Mas o exagero, sempre ele, e a falta
de critérios, sempre ela, costumam colocar tudo a perder. Como levar a sério um
cidadão que vive pedindo desculpas pelos mesmos erros de sempre? Das duas, uma:
ou o tipo é leso, ou despudorado.
Tenho
pra mim que quem muito pede nada leva, além de torrar a paciência alheia. Ou
seja: chora muito, mama pouco. Conheci um sujeito assim, radialista. Não sei se
ele está vivo ainda. Era um pidão profissional. De nada adiantava lhe dizer:
–
Infelizmente, não tenho como ajudá-lo.
A
resposta vinha rápida, feito flecha, junto com a lista de pedidos:
–
Você é que pensa. Sempre é possível ajudar um amigo.
Invencível.
Certa feita – eu não presenciei a cena, mas não tenho razões para duvidar de
que ela não tenha ocorrido –, ele abordou o secretário de Estado que acabara de
dar uma entrevista à rádio em que trabalhava. Pediu de tudo ao homem – de
emprego para a filha a casa popular para a ex-mulher. Ante as sucessivas
negativas, partiu para o penúltimo ataque:
–
Tudo bem, doutor. Então, me arrume um cigarro.
–
Eu não fumo, respondeu sua Excelência.
–
E o que o senhor tem no bolso da camisa?
–
Colírio.
–
Preciso de duas gotas. Pode ser?
(maio/2013)
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