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DEPRÊ
Homem
bom, o Tonico. Pena que a vida, sempre ela, bandida, o transformou num triste. Bem
pior que isso: a vida o transformou num chato. Sua mulher morreu, os filhos se
mandaram. Tonico ficou só, com suas amarguras, sem ninguém, só com o telefone.
Que não tocava. Mas Tonico ligava, para encher, sem querer. Tonico.
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Alô! Oi, mana. Ando tão triste, só penso na mãe.
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Mas ela morreu há vinte anos.
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Pra mim é como se ela acabasse de bater as sapatilhas.
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Mãe nunca foi bailarina... Tonico, vá se tratar.
O DONO DO GALO SE FOI
Como
pode, num lugar desses, prédios de lado e outro, alguém ter galo? É certo que
algumas casinhas, poucas, muito poucas, com quintal, resistem ao assédio das
incorporadoras. Sorte do galo. Azar o meu. Quatro da manhã, olhar buscando o nada,
de olho no galo madrugador. Cismei. Passei acordar antes do galo, imitava o
galo, em alto e bom som, para o galo acordar. Ele retrucava. Vigoroso. O dono
do galo se foi. Morreu de insônia. Os filhos venderam a casa. O galo, dizem,
virou prato. E eu não canto mais pra seu ninguém.
Delicia! Delícia! Cada vez melhor! Valeu meu domingo!
ResponderExcluirSeu comentário, Marlene, me valeu o semestre. Coisa boa não se sentir inútil.
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