domingo, 14 de junho de 2015

QUASE HISTÓRIAS (XL)

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DEPRÊ

Homem bom, o Tonico. Pena que a vida, sempre ela, bandida, o transformou num triste. Bem pior que isso: a vida o transformou num chato. Sua mulher morreu, os filhos se mandaram. Tonico ficou só, com suas amarguras, sem ninguém, só com o telefone. Que não tocava. Mas Tonico ligava, para encher, sem querer. Tonico.

-- Alô! Oi, mana. Ando tão triste, só penso na mãe.

-- Mas ela morreu há vinte anos.

-- Pra mim é como se ela acabasse de bater as sapatilhas. 

-- Mãe nunca foi bailarina... Tonico, vá se tratar.


O DONO DO GALO SE FOI

Como pode, num lugar desses, prédios de lado e outro, alguém ter galo? É certo que algumas casinhas, poucas, muito poucas, com quintal, resistem ao assédio das incorporadoras. Sorte do galo. Azar o meu. Quatro da manhã, olhar buscando o nada, de olho no galo madrugador. Cismei. Passei acordar antes do galo, imitava o galo, em alto e bom som, para o galo acordar. Ele retrucava. Vigoroso. O dono do galo se foi. Morreu de insônia. Os filhos venderam a casa. O galo, dizem, virou prato. E eu não canto mais pra seu ninguém.   





2 comentários:

  1. Delicia! Delícia! Cada vez melhor! Valeu meu domingo!

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    1. Seu comentário, Marlene, me valeu o semestre. Coisa boa não se sentir inútil.

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