CAMARGO |
EMERGENTES
Mulher
e marido ganhavam bem, muito bem. Mas era notório que se amavam pouco, muito
pouco. Gastavam o tempo consumindo tudo o que estivesse na moda e se exibindo
ante seus convidados pobretões. A falsa modéstia fazia parte do script. Não
suportavam ficar a sós.
Os
convidados se fingiam de mortos. Boa bebida e boa comida, de graça, amolecem
corações, embotam cérebros. Mas não impedem que os “ingratos” falem mal pelas
costas horas depois. Mas essa é outra história.
Ela
afetava pobreza inexistente, para ressaltar a pobreza alheia. Ele jurava
admirar a preferência dos visitantes por carros populares. E garantia que, um
dia, compraria um carrinho básico e usado. Para ir à feira, claro.
SÍLVIO SANTOS: TARADO
Calma,
gente: não acho isso, não. Quem achava era a avó do Dias, amigo do peito do
pai, morta 500 anos atrás. A velha senhora morava no Rio com a filha mais
velha. A tevê engatinhava no Brasil. Mas Sílvio Santos já era “coisa nossa”,
aos domingos. Como o macarrão, a galinha e o pêssego em caldas.
A
velha senhora ia onde a levavam. A filha, às vezes, vinha a São Paulo rever os
irmãos. E trazia a mãe, evidentemente. E aí começava o problema. Aqui, como lá,
aos domingos, o ritual se repetia: macarrão, frango, tubaína, pêssego em caldas
e “SS vem aí”...
A
velha senhora não se continha. E alertava a filha, diante da televisão ligada:
--
Estique a saia, menina. O tarado não tira os olhos de suas pernas. A gente sai
do Rio, vem pra São Paulo, mas ele não desgruda de suas partes baixas.
Vagabundo. Do Baú não compro nada.
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