domingo, 28 de junho de 2015

QUASE HISTÓRIAS (LII)

CAMARGO


EMERGENTES

Mulher e marido ganhavam bem, muito bem. Mas era notório que se amavam pouco, muito pouco. Gastavam o tempo consumindo tudo o que estivesse na moda e se exibindo ante seus convidados pobretões. A falsa modéstia fazia parte do script. Não suportavam ficar a sós.

Os convidados se fingiam de mortos. Boa bebida e boa comida, de graça, amolecem corações, embotam cérebros. Mas não impedem que os “ingratos” falem mal pelas costas horas depois. Mas essa é outra história.

Ela afetava pobreza inexistente, para ressaltar a pobreza alheia. Ele jurava admirar a preferência dos visitantes por carros populares. E garantia que, um dia, compraria um carrinho básico e usado. Para ir à feira, claro.


SÍLVIO SANTOS: TARADO

Calma, gente: não acho isso, não. Quem achava era a avó do Dias, amigo do peito do pai, morta 500 anos atrás. A velha senhora morava no Rio com a filha mais velha. A tevê engatinhava no Brasil. Mas Sílvio Santos já era “coisa nossa”, aos domingos. Como o macarrão, a galinha e o pêssego em caldas.

A velha senhora ia onde a levavam. A filha, às vezes, vinha a São Paulo rever os irmãos. E trazia a mãe, evidentemente. E aí começava o problema. Aqui, como lá, aos domingos, o ritual se repetia: macarrão, frango, tubaína, pêssego em caldas e “SS vem aí”...

A velha senhora não se continha. E alertava a filha, diante da televisão ligada:

-- Estique a saia, menina. O tarado não tira os olhos de suas pernas. A gente sai do Rio, vem pra São Paulo, mas ele não desgruda de suas partes baixas. Vagabundo. Do Baú não compro nada. 


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