ENTRE ANJOS E DEMÔNIOS
Que
cada um cuide bem dos seus demônios.
Eu
também tenho os meus e os trato a pão-de-ló.
São
eles que me ressuscitam para vida quando me sinto sufocado e anestesiado pelos
sons celestiais dos anjos que se vendem a prestação em cada esquina da cidade.
Que
cada um cuide bem dos seus demônios.
Aproveitem
enquanto ainda estão marginalizados e não se tornaram produtos rentáveis
explorados pela sociedade de consumo.
Que
cada um cuide bem dos seus demônios, pois sem eles seríamos metade, incompletos
e não beberíamos na fonte rejuvenescedora da maldade.
Que
cada um cuide bem dos seus demônios, explorem a sua pemissividade, a sua falta
de pudor, de ética, de moral, pois sem eles jamais saberíamos os limites entre
o certo e o errado.
Que
cada um cuide bem dos seus demônios, pois sem eles morreríamos de tédio,
esqueceríamos os prazeres mundanos, desconheceríamos o lado impuro e podre de
cada um de nós.
Recife,
2009
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