sábado, 6 de junho de 2015

CLÓVIS CAMPÊLO

ENTRE ANJOS E DEMÔNIOS


Que cada um cuide bem dos seus demônios.

Eu também tenho os meus e os trato a pão-de-ló.

São eles que me ressuscitam para vida quando me sinto sufocado e anestesiado pelos sons celestiais dos anjos que se vendem a prestação em cada esquina da cidade.

Que cada um cuide bem dos seus demônios.

Aproveitem enquanto ainda estão marginalizados e não se tornaram produtos rentáveis explorados pela sociedade de consumo.

Que cada um cuide bem dos seus demônios, pois sem eles seríamos metade, incompletos e não beberíamos na fonte rejuvenescedora da maldade.

Que cada um cuide bem dos seus demônios, explorem a sua pemissividade, a sua falta de pudor, de ética, de moral, pois sem eles jamais saberíamos os limites entre o certo e o errado.

Que cada um cuide bem dos seus demônios, pois sem eles morreríamos de tédio, esqueceríamos os prazeres mundanos, desconheceríamos o lado impuro e podre de cada um de nós.

Recife, 2009



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