MOLHANDO
O BUCHO POR DENTRO
A gente vai ficando menos
novo (gosto desse eufemismo pra disfarçar a ideia de que estou ficando velho) e
aprendendo o que vale e o que não vale a pena. Antes, brigava por qualquer
bobagem, não levava desaforo pra casa. Hoje, qualquer desaforo eu engulo, faço
de conta que não ouço, me benzo, molho o bucho por dentro com uma cerva bem
gelada e sigo a estrada. Pra que complicar mais se a vida já é tão complicada?
Ato consciente que se reforça quando espio no espelho e vejo meus cabelos
brancos, devido à brincadeira de mau gosto do senhor Tempo com as tintas dos
anos e os pincéis da vida … Até pouco tempo, eu ainda dizia o que vinha na
boca. De uns tempos pra cá, quem se senta ao meu lado jamais ouve desaforo. Ao
contrário: calo, faço o sinal da cruz e, assim benzido, sigo em frente, alegre
e sorridente, respeitando o tempo e sua pressa. E pra não perder o costume,
enxáguo o bucho já molhado com outra cerva, mais gelada que a primeira. Que a
vida é curta e só vale a pena o que é bom. (XICO
BIZERRA)
Xico Bizerra é compositor, poeta, cronista e produtor musical.
Tem mais de 270 composições gravadas
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http://www.forroboxote.com.br/ |
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