quarta-feira, 3 de junho de 2015

COISAS DA VIDA

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arquivo: Ignácio Castañón


AMPLIFICADORA DO AGRESTE

(Por Violante Pimentel) Muito antes da “era cibernética”, quando as emissoras de rádio só existiam na capital do Estado, era comum nas cidades do interior a instalação de serviços de alto-falante, para divulgação de propagandas comerciais, anúncios, avisos, e músicas de compositores e cantores que estavam no auge do sucesso, como também de músicas antigas. Às 18 horas, hora do "Angelus", o locutor lia uma prece e colocava para tocar a Ave Maria de Schubert ou a de Gounod.

Nas festas de final de ano, essa atividade era muito lucrativa, com pessoas oferecendo músicas umas às outras, principalmente os casais apaixonados. Esses serviços de "amplificadoras" tinham nomes característicos, como “A voz do Município”, “A voz do Agreste” e a “Voz do Seridó”,  entre outros.

Violante Pimentel
Violante Pimentel é procuradora
aposentada
 do Estado do Rio Grande do Norte

Em Nova-Cruz não era diferente. O locutor oficial, orgulhoso da sua belíssima voz, gostava do que fazia e caprichava na entonação, imitando artista de radionovela. Passava horas lendo propagandas e avisos, intercalados com “páginas musicais”. Não faltavam os oferecimentos de músicas “de alguém para alguém”, com mensagens apaixonadas. Certo dia, na sequência “Mensagens Musicais”, um rapaz apaixonado pagou para oferecer à namorada uma canção recentemente gravada por um cantor popular. Cumprindo sua obrigação, o locutor leu a mensagem que o rapaz mesmo redigiu:

 “Atenção, Berenice, assim como as flores se abrem para receber o orvalho matinal, abra seu coração para receber Cabeça Inchada”. O vinil rodava: “Estou doente morena, doente tô morena, cabeça inchada morena, tô. tô, tô. (Foi sucesso na voz de Carmélia Alves.)

O Delegado de Polícia da cidade ouviu a mensagem e, em seguida, a música, e não gostou nenhum pouco. Entendeu que aquilo era um desrespeito às famílias decentes da cidade, um verdadeiro atentado ao pudor. A autoridade policial determinou que dois soldados invadissem o estúdio, apreendessem o disco “Cabeça Inchada” e conduzissem o locutor até à Delegacia, para se explicar...

Difícil foi o povão se conformar com a retirada de circulação do maior sucesso musical daquele momento, “Cabeça Inchada”.






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