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AMPLIFICADORA DO AGRESTE
(Por Violante Pimentel) Muito
antes da “era cibernética”, quando as emissoras de rádio só existiam na capital
do Estado, era comum nas cidades do interior a instalação de serviços de
alto-falante, para divulgação de propagandas comerciais, anúncios, avisos, e
músicas de compositores e cantores que estavam no auge do sucesso, como também
de músicas antigas. Às 18 horas, hora do "Angelus", o locutor lia uma
prece e colocava para tocar a Ave Maria de Schubert ou a de Gounod.
Nas
festas de final de ano, essa atividade era muito lucrativa, com pessoas
oferecendo músicas umas às outras, principalmente os casais apaixonados. Esses
serviços de "amplificadoras" tinham nomes característicos, como “A
voz do Município”, “A voz do Agreste” e a “Voz do Seridó”, entre outros.
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Em
Nova-Cruz não era diferente. O locutor oficial, orgulhoso da sua belíssima voz,
gostava do que fazia e caprichava na entonação, imitando artista de
radionovela. Passava horas lendo propagandas e avisos, intercalados com
“páginas musicais”. Não faltavam os oferecimentos de músicas “de alguém para
alguém”, com mensagens apaixonadas. Certo dia, na sequência “Mensagens
Musicais”, um rapaz apaixonado pagou para oferecer à namorada uma canção
recentemente gravada por um cantor popular. Cumprindo sua obrigação, o locutor
leu a mensagem que o rapaz mesmo redigiu:
“Atenção, Berenice, assim como as flores se
abrem para receber o orvalho matinal, abra seu coração para receber Cabeça
Inchada”. O vinil rodava: “Estou doente morena, doente tô morena, cabeça
inchada morena, tô. tô, tô. (Foi sucesso na voz de Carmélia Alves.)
O
Delegado de Polícia da cidade ouviu a mensagem e, em seguida, a música, e não
gostou nenhum pouco. Entendeu que aquilo era um desrespeito às famílias decentes
da cidade, um verdadeiro atentado ao pudor. A autoridade policial determinou
que dois soldados invadissem o estúdio, apreendessem o disco “Cabeça Inchada” e
conduzissem o locutor até à Delegacia, para se explicar...
Difícil
foi o povão se conformar com a retirada de circulação do maior sucesso musical
daquele momento, “Cabeça Inchada”.
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