D. Luiz Inácio I, o inimputável |
UM
PAÍS ASSOLADO POR DUAS FEBRES
O
ideologismo idiota grassa em toda a área educacional
Por
Bolívar Lamounier
IstoÉ
On-line
02/02/2018
– 18h
A febre amarela chegou como uma novidade
temível, potencialmente devastadora. É coisa recente. Muito antes dela, uma
outra, menos visível e sem impacto imediato, já se instalara confortavelmente,
de norte a sul do País. Refiro-me ao ideologismo idiota que grassa em toda a
área educacional. O vigor com que ele emergiu após a confirmação da condenação
de Lula pelo TRF-4 é facilmente perceptível.
O ponto de aglutinação da febre ideológica é
o PT, que a irradia para o restante da sociedade, valendo-se principalmente da
juventude universitária como veículo transmissor. Essa se entregou de corpo e
alma à arenga de que “eleição sem Lula é fraude”, como se o Brasil fosse uma
monarquia absoluta e Lula fosse dom Luiz Inácio I, o Inimputável.
Há quem acredite que essa antiga febre se
agigantou graças a um esforço de inculcação deliberado e sistemático levado a
cabo pelo PT. Partindo praticamente de zero, o PT teria operado esse famigerado
milagre. Nisso eu discordo. O PT e os partidos de esquerda não teriam alcançado
um “sucesso” tão estrondoso se não existissem certas condições favoráveis no
meio estudantil ao qual se destina. Certa predisposição, digamos assim. E a que
se deve tal predisposição?
Bolívar: cientista político e membro
da Academia Paulista de Letras
|
Primeiro, à gratuidade do ensino para as
camadas altas da sociedade. Permitam-me repetir pela enésima vez que, para as
camadas de menor renda, eu apoio não só a gratuidade, mas crédito educativo a
ser ressarcido anos depois e mesmo bolsas, sem necessidade de pagamento
posterior por parte dos recipiendários. Mas gratuidade para as famílias ricas,
cujos filhos estão sempre entre os mais ideológicos, é o fim da picada. De um
pulinho anual à Europa essas famílias não abrem mão, mas pagar pela educação
superior dos filhos, nem pensar. Deixo a dica: no texto intitulado Crítica ao Programa de Gotha, de 1875,
uma violenta crítica ao programa do Partido Operário alemão, Marx refere-se
textualmente à gratuidade existente em alguns dos estados americanos: “o fato
de que em alguns Estados desse país os centros de ensino superior sejam
‘gratuitos’ significa tão somente, na realidade, que ali as classes altas pagam
suas despesas de educação às custas do fundo de impostos gerais”. Bons tempos
aqueles em que, pelo menos Marx, os ideólogos de esquerda liam.
A juventude universitária se entregou de
corpo e alma à arenga de que “eleição sem Lula é fraude”, como se Lula fosse
dom Luiz Inácio I, o Inimputável.
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