Ilustração: Depositphotos |
A PERFEIÇÃO
O que me tranquiliza é que tudo o que existe, existe com uma
precisão absoluta. O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete não
transborda nem uma fração de milímetro além do tamanho de uma cabeça de
alfinete. Tudo o que existe é de uma grande exatidão. Pena é que a maior parte
do que existe com essa exatidão nos é tecnicamente invisível. Apesar da verdade
ser exata e clara em si própria, quando chega até nós se torna vaga pois é
tecnicamente invisível. O bom é que a verdade chega a nós como um sentido secreto
das coisas. Nós terminamos adivinhando, confusos, a perfeição.
SILÊNCIO (TRECHO)
(…) Como estar ao alcance dessa profunda meditação do silêncio.
Desse silêncio sem lembrança de palavras. Se és morte, como te alcançar?
É um silêncio que não dorme: é insone: imóvel mas insone; e sem
fantasmas. É terrível – sem nenhum fantasma. Inútil querer povoá-lo com a
possibilidade de uma porta que se abra rangendo, de uma cortina que se abra e
diga alguma coisa. Ele é vazio e sem promessa. Se ao menos houvesse o vento.
Vento é ira, ira é vida. Ou neve, que é muda, mas deixa rastro – tudo
embranquece, as crianças riem, os passos rangem e marcam. Há uma continuidade
que é a vida. Mas este silêncio não deixa provas. Não se pode falar do silêncio
como se fala da neve.
Nenhum comentário:
Postar um comentário