Chegou a pensar que enlouqueceria antes de o dia amanhecer.
Pensou, não: teve certeza.
O pai o chamava ao quarto de hora em hora, no começo
da madrugada.
Depois, já no meio da madrugada, o tempo entre uma chamada e outra encurtou para meia hora.
O pai não queria mais o cobertor, queria mudar de lado, queria ficar sentado, queria tomar água, queria o cobertor de novo e mudar de lado também, queria tirar a fralda, não estava na hora do café, não?
Depois, já no meio da madrugada, o tempo entre uma chamada e outra encurtou para meia hora.
O pai não queria mais o cobertor, queria mudar de lado, queria ficar sentado, queria tomar água, queria o cobertor de novo e mudar de lado também, queria tirar a fralda, não estava na hora do café, não?
Entre uma
chamada e outra, o pai se digladiava com seus inúmeros fantasmas, chamava a
polícia, chamava o ladrão, dizia palavrões que nunca dissera ao longo da vida, homem educado que sempre foi.
O dia amanheceu.
Após tomar a primeira leva de comprimidos, ainda na cama, o pai lhe perguntou:
O dia amanheceu.
Após tomar a primeira leva de comprimidos, ainda na cama, o pai lhe perguntou:
-- Dormiu bem esta noite?
***
O pai via fantasmas, conversava com fantasmas,
indicava livros para os fantasmas, fazia planos com os fantasmas.
Era o filho, porém, quem vivia assombrado.
Era o filho, porém, quem vivia assombrado.
(OS - ATUALIZADO EM FEVEREIRO DE 2018)