PLANO C
Não entendo por que ser grosso e estourado
pode impedir alguém de fazer um bom governo
Por Nelson Motta
O Globo – 09/02/2018
Com a saída de Lula, crescem as
chances de Ciro Gomes — e de outros candidatos. Por que falar em Ciro Gomes?
Apesar de pontuar razoavelmente nas pesquisas, sem Lula vai a 12% contra 18% de
Bolsonaro, ninguém fala dele. Mas ele está vivo — e quieto, contrariando sua
habitual impetuosidade.
Afinal, o que há contra Ciro Gomes?
Na campanha de 2002, ele disse que a função de sua mulher era dormir com ele e
chamou um eleitor de burro. Oh! Uma bravata machista e uma grosseria com um
popular que falou uma... burrice. Será que isso bastou para perder a eleição?
Há controvérsias. Ciro nunca foi acusado de corrupto, mesmo tendo sido
prefeito, governador e ministro da Integração Nacional no primeiro governo
Lula. É verdade, o cara é esquentado, responde a mais de 80 processos por danos
morais, quase todos a Eunício Oliveira, Eduardo Cunha e Michel Temer. Mas,
convenhamos, ser processado por esses caras é quase um elogio.
Não, não estou fazendo nem farei
campanha para Ciro Gomes, nem para ninguém. Mas não entendo por que ele é tão
criticado por, às vezes, ser grosso e estourado, como se isso pudesse impedir
alguém de fazer um bom governo. Basta pensar em Lula e Dilma, suas grossuras,
seus palavrões, seu autoritarismo, para Ciro virar um gentleman tolerante.
Não gosto de seu nacionalismo
exacerbado, seu amor às estatais, um certo provincianismo geopolítico que é
irmão do atraso, suas ligações com uma esquerda antiga, retrógrada e populista
— talvez mais eleitorais do que ideológicas. E o PDT, é claro.
Pode-se discutir suas ideias para o
Brasil, mas não sua honestidade e experiência. Mas o Brasil precisa de alguém
com o seu perfil? Não dá para enfrentar Bolsonaro com sutilezas e metáforas,
nem para administrar um país com a corrupção institucionalizada nos Três
Poderes, só com argumentos racionais e diálogos republicanos. É preciso força,
coragem e autoridade, tolerância zero com corruptos, sejam parlamentares,
juízes ou altos funcionários, respeito à democracia e à Constituição.
Se o problema de Ciro é o estilo
arretado, talvez agora isso seja uma qualidade necessária.
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