Villas Bôas: "Precisamos dar segurança a esses jovens, para que eles cumpram suas missões.” Foto: Arquivo Google |
COMANDANTE DE EXÉRCITO QUEIXA-SE DE
INSEGURANÇA JURÍDICA NA ATUAÇÃO DO RJ
A ''segurança'', no caso, seria a garantia de julgamento em foro
militar
Por Josias de Souza
UOL – 20/02/2018 – 6h16
O comandante do Exército, general
Eduardo Villas Bôas, revela em suas conversas privadas uma enorme preocupação
com as consequências do que chama de “insegurança jurídica” na atuação dos
soldados em ações de segurança urbana - como as que serão intensificadas no Rio
de Janeiro, agora sob intervenção federal.
Villas Bôas costuma citar a
situação dos recrutas. Diz coisas assim: “O Exército tira o jovem da família
dele, para o serviço militar obrigatório. Treina-o para atuar como soldado. O
jovem é destacado para uma operação no Rio de Janeiro. Ele se depara com traficantes.
Troca tiros. Mata os bandidos para se defender. Depois, o Exército devolve esse
jovem para sua família como um indiciado pela Justiça comum, sob o risco de ser
submetido a um júri popular. Precisamos dar segurança a esses jovens, para que
eles cumpram suas missões.”
A ''segurança'', no caso, seria a
garantia de julgamento em foro militar. As preocupações de Villas Bôas vinham
crescendo na proporção direta do aumento do número de operações para a garantia
da lei e da ordem em áreas urbanas, as chamadas GLO. O general voltou a grudar
os lábios no trombone depois que Michel Temer decretou intervenção no setor de
segurança do Rio, nomeando como interventor um general.
Nesta segunda-feira, ao participar
de reunião de Michel Temer com os conselhos da República e de Defesa, Villas
Bôas utilizou uma analogia infeliz para realçar sua inquietação. Ele declarou
que os militares precisam se cercar de garantias no Rio de Janeiro, para que
daqui a três décadas não tenham que se submeter a uma “nova Comissão da
Verdade.”
Como se sabe, a Comissão da
Verdade, criada sob Dilma Rousseff, apurou violações aos direitos humanos
praticadas pelo Estado brasileiro durante a ditadura militar –da tortura ao
sumiço de pessoas. Considerando-se que não há espaço para a reiteração desse
tipo de prática nas ações militares que serão realizadas no Rio de Janeiro, o
general faria um bem a si mesmo e à tropa se arrumasse argumentos melhores.
Nenhum comentário:
Postar um comentário