Luis Roberto Barroso Foto: Fellipe Sampaio /SCO/STF |
MUDAR REGRAS SOBRE PRISÕES
SERIA “RUIM E TRÁGICO”
Ministro Luís Roberto Barroso, do STF:
"Você tem uma elite extrativista que cria um país só para si.
Em qualquer democracia, você pode ter um projeto liberal,
progressista ou conservador de poder.
Mas jamais um projeto desonesto de poder,
e esta é a circunstância brasileira"
Por Josias de Souza
UOL/BLOG – 23/02/2018 – 2h35
Num instante em que o Supremo
Tribunal Federal se prepara para discutir pela quarta vez a jurisprudência
sobre prisão, o ministro Luís Roberto Barroso declarou que será “entre muito
ruim e trágico” se a maioria dos seus colegas decidir rever a regra que
permitiu o encarceramento de condenados na segunda instância. A presidente da
Suprema Corte, Cármen Lúcia, vem sendo pressionada a colocar o tema na pauta de
julgamentos do plenário. Condenado a 12 anos e 1 mês de cadeia no TRF-4, Lula
aguarda o desfecho com indisfarçável interesse.
Entrevistado pela repórter Míriam
Leitão, Barroso declarou: “Acho que esta discussão vai se colocar, e vai ser
entre muito ruim e trágico se o Supremo reverter a posição. Quando se passou a
permitir a execução depois da condenação em segundo grau, pela primeira vez a
imensa quantidade de ricos delinquentes que há no Brasil passou a evitar
cometer crimes e, depois, a colaborar com a Justiça. Foi a coisa mais
importante que aconteceu para se punir a criminalidade do colarinho branco.”
A conversa foi exibida pela Globonews na noite desta quinta-feira.
A certa altura, Barroso afirmou que uma eventual meia-volta do Supremo
beneficiará os criminosos de colarinho asseado, pois “o pobre é preso antes da
sentença de primeiro grau, é preso em flagrante, com droga, e não sai mais.”
Ministros como Dias Toffoli e
Gilmar Mendes defendem que a execução das penas seja empurrada para a terceira
instância. Nesse caso, os criminosos só começariam a cumprir o castigo depois
que as condenações fossem confirmadas pelo STJ, o Superior Tribunal de Justiça.
Barroso recordou dados que desaconselham a postergação.
“Pedi uma pesquisa no Superior
Tribunal de Justiça (STJ) e se revelou que o índice de absolvição pelo STJ é de
0,62%, menos de 1% dos casos. Portanto, você esperaria o julgamento pelo STJ, o
que às vezes leva uma década, por uma hipótese raríssima” de reversão da
sentença condenatória.
O ministro fareja na atmosfera um
cheiro reação da delinquência poderosa e endinheirada. “O combate à corrupção
no Brasil atingiu setores e pessoas que se sentiam imunes e impunes. O que
estamos vendo é a reação oligárquica. A corrupção no Brasil é parte de um pacto
oligárquico, celebrado entre boa parte da classe política, boa parte da classe
empresarial e boa parte da burocracia estatal, um pacto de saque ao estado
brasileiro, de desvio de dinheiro. Agora há a reação oligárquica ao
enfrentamento dessa corrupção. E esta gente tem aliados em toda parte: nos
altos escalões dos poderes da República, na imprensa e até onde menos se
poderia esperar.”
A despeito dos embates que travou
com Gilmar Mendes no plenário do Supremo, Barroso disse não ter problema
pessoal com o colega de toga. “São diferentes visões do país e do Direito. Eu
acho que é a hora de empurrarmos a história e, dentro da Constituição e das
leis, respeitando o direito de defesa, mudarmos o patamar ético do Brasil”,
declarou o ministro, antes de repetir expressões que já havia utilizado num de
seus entreveros com Gilmar. “Não faço parte do pacto oligárquico, nem tenho
essa identificação com esse modelo que está aí.”
O ministro prosseguiu: “Este pacto
oligárquico significa que não há desenvolvimento, não há distribuição de renda…
A corrupção traz esse problema. Você tem uma elite extrativista que cria um
país só para si. Em qualquer democracia, você pode ter um projeto liberal,
progressista ou conservador de poder. Mas jamais um projeto desonesto de poder,
e esta é a circunstância brasileira.”
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