Churchill |
NEVER! NEVER!
Se você elogiar algum personagem da nossa história,
sempre aparecerá alguém para lhe emporcalhar a memória
Por Percival Puggina
Blog do Puggina – 16.02.2018
“O Destino de uma Nação”
chegou aos cinemas suscitando muitas abordagens na imprensa brasileira. Dois
amigos enviaram-me, sobre Churchill e sobre o filme, textos interessantes (1) e
(2). Tão logo os postei em meu blog, apareceu alguém para atacar Churchill,
lançando sobre ele terríveis anátemas. Só faltou, àquele leitor, afirmar que
seria melhor se o inglês não tivesse nascido. Posteriormente fui assistir ao
filme (quase digo “participar”, tal a atração que a obra de Joe Wright exerceu
sobre mim). Baita filme!
Volto, então, ao tema. A crítica daquele leitor é parte importante
do problema brasileiro. Se você elogiar algum personagem da nossa história,
sempre aparecerá alguém para lhe emporcalhar a memória. A biografia de
Churchill é conhecida e, convenhamos, não é difícil transformá-lo num anjo de
bondade quando a comparamos, por exemplo, com a longa história do imperialismo
britânico.
No entanto, diferentemente do que acontece nas análises
depreciativas, anacrônicas e improdutivas da nossa própria história, os
britânicos não andam pelo mundo de joelhos, em inesgotáveis atos penitenciais,
a prover acertos de contas. Eles têm consciência de algo que tantos brasileiros
se empenham em ignorar porque convém a seus objetivos políticos: o passado não
pode ser corrigido; o que pode ser corrigido é o futuro.
De nada vale soprar cinzas e reviver brasas das misérias morais do
pretérito. São os grandes feitos, os grandes homens, os grandes gestos, os
grandes momentos, as grandes lições que enriquecem o presente e nos guiam para
o futuro. Foi o que eu quis dizer, outro dia, quando escrevi sobre o principal
motivo de não termos um partido conservador significativo no Brasil: falta-nos
o conhecimento e o respeito devido aos nossos bens espirituais inscritos nas
raízes lançadas pelos que aqui nos precederam. Mais uma vez, foi o alto
significado dessa visão de história, desse sentido de nação, dessa necessária
revascularização da seiva nacional que me veio à mente assistindo a “O destino
de uma nação”.
Malgrado os vícios, pecados, erros e defeitos de Churchill e do “povo
da ilha”, o mundo livre deve sua liberdade à determinação e ao sentido de
história que todos demonstraram em sua hora mais escura. Eles não estão
cobrando conta alguma, e não parece servir a coisa útil promover, as aferições
que alguns pretendem. No momento mais emocionante do filme, consultada sobre se
a nação deveria assinar um acordo com Hitler para evitar a invasão da ilha, a
garotinha do metrô gritou: “Never! Never!”. O mesmo digo aos ávidos em fazer
carniça da nossa própria história para promover conflitos, arrependimentos,
ajustes de contas e, na contramão, transformar seus bandidos em heróis. Nunca!
Nunca!
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