NELSON MOTTA |
A DESONRA DO MÉRITO
Nada justifica que nas estatais os méritos profissionais
e o
desempenho sejam atropelados
pelo apadrinhamento e indicações políticas
Por Nelson Motta
O Globo - 23/02/2018
Desde criança me acostumei a ver
sobre a mesa de professores, funcionários, juízes, advogados, uma plaquinha de
madeira com “Honra ao Mérito” escrito em letras douradas, prateadas ou pintadas
à mão. Bem na frente da mesa, era como uma legenda sobre quem estava atrás, um
ícone de cafonice, equivalente ao pinguim de geladeira e ao quadro da Santa
Ceia na sala.
Cafona, sim, mas 50 anos depois,
verdadeiro e urgente. Honrar o mérito é do que mais precisamos, para enfrentar
o empreguismo, o aparelhamento partidário, as indicações políticas e todas as
formas de favorecimento que degradaram a administração pública, as estatais e
quebraram seus fundos de pensão. Esquerda, direita e centro não podem negar:
sem meritocracia, não há democracia plena.
Mas como falar de uma competição
equilibrada, por méritos, entre pessoas que tiveram oportunidade, dinheiro,
tempo para estudar em boas escolas, e os pobres, pretos e malformados pela
maioria das péssimas escolas públicas brasileiras? Assim, as Ferraris sempre
chegarão antes das bicicletas e dos jegues, embora alguns deles se transformem
em Ferraris. Só a educação equilibra a competição.
Enquanto isso, nada justifica que
nas administrações públicas brasileiras e nas estatais os méritos do preparo
profissional e desempenho sejam atropelados pelo apadrinhamento e as indicações
políticas. Não foram poucos os funcionários concursados e eficientes que
aderiram a um partido político como forma de crescer na carreira.
A cultura da boquinha, da sinecura,
da troca de favores, é de esquerda, direita ou centro? Seria parte integrante
do DNA do brasileiro, professor DaMatta? Ou algo que se exacerbou e transbordou
nos últimos anos?
Os milhões de funcionários
honestos, competentes e trabalhadores são os principais interessados na reinstituição
da meritocracia no serviço público e, principalmente, nas 120 estatais que
sofreram prejuízos colossais com essa cultura nefasta e corrosiva. Não tem que
manter isso aí, não.
Nenhum candidato pode evitar esse
debate. Como sanear o desperdício e o roubo do dinheiro público provocado pela
desonra do mérito?
***
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Entre os colegas de trabalho, no entanto, Jovelino não era muito benquisto:
“Você trabalha demais, cria problemas para a gente”. Por Orlando Silveira
https://orlandosilveira1956.blogspot.com.br/2018/02/quase-historias-honra-ao-merito.html#comment-form
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