(Foto: Christophe Simon/AFP) |
EMPULHAÇÃO
Não adianta chamar o Exército e deixar a lei ao lado dos criminosos
Por J.R. Guzzo
16/02/2018 – 19H11
As Forças Armadas, com o Exército à frente, são a organização mais
respeitada do Brasil. Dão de 10 a 0 no Supremo Tribunal Federal, no Ministério
Público, nos juízes que ganham o “auxílio-moradia”, na mídia e no Congresso
Nacional. Ganham de longe de qualquer organização civil ─ sindicatos, empresas
estatais ou privadas, confederações disso ou daquilo, clubes de futebol, OABs e
similares. É melhor nem falar, então, da Igreja Católica e das CNBBs da vida ─
e muito menos desses lúgubres “movimentos sociais”, entidades de “minorias” e
outros parasitas que vivem às custas do Tesouro Nacional. Enfim, as Forças
Armadas têm mais prestigio que qualquer outra coisa organizada que exista neste
país. Militar não rouba. Militar não falta ao serviço. Militar não é nomeado
por político. É exatamente por essas razões ─ por ter nome limpo na praça, e
valer mais aos olhos do público do que todos os três poderes juntos ─ que o
Exército foi chamado para defender um Rio de Janeiro invadido, tomado e
governado na prática por um exército de ocupação de criminosos. Mas é só por
isso, e por nada mais: o governo chamou os militares, porque esta é a única
maneira de tentar mostrar à população que está “fazendo alguma coisa” contra a
derrota humilhante que lhe foi imposta pelos bandidos. O Exército não pode
derrotar o crime no Rio de Janeiro. Nenhum exército foi feito para isso, em
nenhum lugar do mundo. Pode haver algum alívio durante um certo tempo, mas
depois a tropa tem de sair ─ e aí o crime volta a mandar, porque é o crime, e
não o governo e sua polícia, quem manda no Rio de Janeiro.
“O exército não tem o direito de usar suas armas dentro
da finalidade para a qual elas foram projetadas e construídas.
Não tem meios adequados sequer para proteger os seus próprios
soldados ─ muito menos, então, para atacar o inimigo. Enquanto
for assim, o Rio continuará entregue aos invasores”
O governo Michel Temer, no caso, é culpado por empulhação ─ mas só
por empulhação. Pela situação do crime no Brasil, com seus 60.000 assassinatos
por ano, recordes de roubos, estupros e violência em massa, e a entrega da
segunda maior cidade do país à bandidagem, as responsabilidades vão muito além.
A culpa pelo desastre, na verdade, é conjunta ─ o que não quer dizer, de jeito
nenhum, que ela é dos cidadãos. Ela é de todos os que têm algum meio concreto
de influir na questão e não fazem o seu dever. Como é possível enfrentar a
sério o crime se temos leis, um sistema Judiciário e agentes do Estado que
protegem ativamente os criminosos? Afinal, do jeito em que está a ordem pública
no Brasil, eles têm praticamente o direito de cometer crimes. A maior parte da
mídia mantém uma postura de hostilidade aberta à polícia ─ nada parece excitar
tanto o fervor do noticiário do que as denúncias contra a “violência policial”.
Obedece, ao mesmo tempo, a mandamentos de simpatia e compreensão perante os
criminosos, sempre tratados apenas como “suspeitos”, vítimas da situação
“social” e portadores prioritários de direitos. A maior parte dos 800.000
advogados do país é contra qualquer alteração que torne menos escandalosa a proteção
e garantias fornecidas ao crime pelas leis atualmente em vigor. Policiais são
assassinados em meio à mais completa indiferença ─ policial bom é policial
morto, parecem pensar governo, oposição e quem está no meio dos dois. Os
bispos, as ONGs, as entidades de defesa dos direitos humanos, as variadas
“anistias” internacionais que andam por aí, as classes intelectuais,
procuradores, juízes, políticos e mais uma manada de gente boa são
terminantemente contra a repressão ao crime. Punição, segundo eles, “não
resolve”. Sua proposta é esperarmos até o Brasil atingir o nível educacional,
cultural e social da Noruega ─ aí sim, o problema estará resolvido.
A jornalista Dora Kramer, na sua coluna da última edição de VEJA,
escreveu o que está para ser dito há muito tempo e ninguém diz: a cidade do Rio
de Janeiro vive, hoje em dia, como se estivesse ocupada por uma tropa de
invasão nazista. Nem mais nem menos. Um invasor do país tem de ser combatido
com guerra, e não com decretos, criação de “ministérios de segurança” e a
intervenção de um Exército que é mandado à frente de combate com as mãos
amarradas. Não tem estratégia clara. Não tem missão definida. Não tem a
proteção da lei. Não tem o direito de usar suas armas dentro da finalidade para
a qual elas foram projetadas e construídas. Não tem meios adequados sequer para
proteger os seus próprios soldados ─ muito menos, então, para atacar o inimigo.
Enquanto for assim, o Rio continuará entregue aos invasores.
Nenhum comentário:
Postar um comentário