No cafofo do Geddel, malas de dinheiro |
GEDDEL SOOU EM INTERROGATÓRIO
COMO PRÉ-DELATOR
O "chegado" de Temer pode provocar um estrago extraordinário
se evoluir do choro para o relato de tudo o que viu.
Foi como se dissesse aos amigos:
“Decifrem-me ou eu os devoro.”
Por Josias de Souza
UOL – 06/02/2018
As noites na cadeia transformaram Geddel Vieira Lima num personagem
enigmático. Mais magro, o ex-coordenador político do governo, amigo de três
décadas de Michel Temer, revelou-se em depoimento à Justiça Federal uma
solitária criatura. “Amigos de longa data me lançaram ao degredo, me lançaram
ao vale dos leprosos”, disse ele. Lacrimejante, Geddel disse ter reencontrado
no xadrez o padre Antônio Vieira, o célebre religioso português. “Os olhos
foram feitos para ver e para chorar”, disse Geddel, evocando um sermão de
Vieira.
Réu em vários processos, Geddel ainda não amargou nenhuma sentença.
Mas já se considera um condenado desde o dia em que foi preso pela segunda vez,
depois que a Polícia Federal estourou o cafofo em que ele mantinha em Salvador
R$ 51 milhões. “Fui condenado à pior das penas. Não há remissão, não há
indulto, não há anistia, não há graça. Fui condenado à morte civil”, disse o
chegado de Temer.
No sermão citado por Geddel, “Olhar e Chorar”, o padre Vieira anota
que “todos os sentidos do homem têm um só ofício; só os olhos têm dois.” Diz o
padre: “O ouvido ouve, o gosto gosta, o olfato cheira, o tato apalpa; só os
olhos têm dois ofícios: ver e chorar”. Ex-ministro de Lula e Temer,
vice-presidente da Caixa sob Dilma, Geddel viu muita coisa. No depoimento ele
soou como um pré-dalator. Alguém que pode provocar um estrago extraordinário se
evoluir do choro para o relato de tudo o que viu. Foi como se dissesse aos
amigos: “Decifrem-me ou eu os devoro.”
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