E O AMOR SAIU PELA JANELA... (10)

  

AMADA AMANTE

Era, sim, um amante à moda antiga, embora não tivesse o hábito de dar flores a seu ninguém. Colocou o vinil na vitrola. E deixou o danado rodando seus lamentos. Entornou parati, ficou emocionado que só. Aquele amor de décadas aflorou. Era o dia, os filhos saíram para passear... Estavam sozinhos. Mas ela tinha manicure com hora marcada, depois ia jogar cartas com as amigas. Paciência. Fica para a próxima.

SENTA, CRISTÓVÃO!

Ernestina, companheira de décadas, foi direto ao assunto:

- Cristóvão, a partir de hoje, você não urina mais de pé. Vai ter que fazer xixi sentado. E não se fala mais nisso, certo?

- Por que isso agora, Ernestina? Enlouqueceu?

- Você não acerta uma no vaso. Limpo, limpo, limpo. E você o que faz? Emporcalha, emporcalha, emporcalha. Chega. Tenha a santa paciência. Assim não dá.  

- O urologista me disse que, na minha idade, isso é normal.

- Não quero saber. Vai ou não vai fazer sentado?

- Não vou.

- Então, chame o urologista para limpar o banheiro.    

 A SINCERIDADE DE EDILEUZA

- Querido: sem dramas, sem traumas, por favor. Você já foi (faz tempo) um gigante na cama. Não é mais (faz tempo também). Nunca lhe neguei isso, neguei? Não tenho culpa se idade e doença jogaram seu instrumento no chão. Do passado é que não vou viver.

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O MAR ENSINA

- Boas amizades são urdidas na quietude, Ananias. Ser amigo não é bisbilhotar a vida do outro, querer que o outro lhe conte o que ele não quer contar. Há tempo para tudo: para discutir coisas sérias, para contar piadas, para assuntar besteiras, para, eventualmente, desabafar. Mas, para que seja, de fato, bem aproveitado, o tempo não abre mão de uma dose generosa de silêncio. Aprendi isso com o mar. Por Orlando Silveira
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