Dirceu defendia que as nomeações para o STF deveriam ser políticas, para servir aos interesses da “causa popular” e do partido |
COM
A DEVIDA VÊNIA
Não
há como negar a queda vertiginosa de qualidade
nos
julgamentos e no comportamento do atual STF,
com
honrosas exceções
Por
Nelson Mottta
O
Globo – 16/02/2018
Revendo
velhas fotos de família, encontrei uma de meu avô Candido Motta Filho de toga,
com seus colegas do Supremo Tribunal Federal dos anos 60: ministros Ary Franco,
Adaucto Lucio Cardoso, Victor Nunes Leal, Nelson Hungria, Evandro Lins e Silva,
Prado Kelly, Lafayette de Andrada, Luiz Galotti e Themistocles Cavalcanti, presididos
por Orozimbo Nonato.
Era
uma verdadeira seleção brasileira de juristas, como sabe qualquer estudante de
Direito. Ensinaram gerações de juízes e advogados com seus livros, suas aulas e
suas sentenças, e se tornaram referência de sabedoria e integridade na vida
brasileira. Seus votos são abundantemente citados até hoje. Nomeados por
Getúlio Vargas, JK, Jango Goulart e Castelo Branco, alguns foram cassados pela
ditadura como subversivos.
Com
a devida vênia, seria cruel comparar a qualidade e a independência desse time
com a atual formação. Não é saudosismo, é história.
Como
o Brasil não deixou de produzir grandes juristas e advogados, o que teria
acontecido? Como e por que começou a decadência?
Sim,
de lá para cá muitos ministros, alguns notáveis, honraram o Supremo, mas não há
como negar a queda vertiginosa de qualidade nos julgamentos e no comportamento
do time atual, com honrosas exceções.
José
Dirceu defendia que as nomeações para o Supremo deveriam ser políticas, para
servir aos interesses da “causa popular” e do partido, argumentando que nos
Estados Unidos a escolha dos membros da Suprema Corte também era “política” —
embora lá o equilíbrio buscado seja entre conservadores e liberais, sem nada a
ver com a ideia chavista da Justiça a serviço da “revolução bolivariana".
A
partir do governo Lula e da influência de Dirceu, se iniciaram nomeações
claramente políticas, com o apoio do Senado. Sem questionar o “notório saber
jurídico” exigido pela Constituição, ministros como Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski
tinham profundas e públicas ligações com Lula, Dirceu, o partido e o governo. E
a partir do mensalão, sob o som e a fúria de Joaquim Barbosa, o Supremo rachou,
cresceu em politização e diminuiu em qualidade, serenidade e compostura.
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