Temer assina intervenção, ao lado de Maia e Pezão Foto: Beto Barata/PR |
BARBÁRIE DO RIO DE JANEIRO DÁ
MEIA-SOLA NO GOVERNO TEMER
Para sorte de Temer, a barbárie ofusca o senso crítico
dos barbarizados. A cegueira coletiva facilita muito as coisas,
pois o PMDB sujo de Brasília pode intervir na administração
do PMDB mal lavado do Rio como se a facção de Temer
dos barbarizados. A cegueira coletiva facilita muito as coisas,
pois o PMDB sujo de Brasília pode intervir na administração
do PMDB mal lavado do Rio como se a facção de Temer
não tivesse nada a ver com a quadrilha de Sérgio Cabral
Por Josias de Souza
UOL – 17/02/2018
A barbárie do Rio de Janeiro revelou-se muito oportuna para Michel
Temer. Potencializada pelo Carnaval, a barbárie estimulou o presidente. Ele
andava meio desanimado com a perspectiva de ser empurrado para o rodapé de um
noticiário monopolizado pelas eleições. A barbárie deu a Temer uma sensação de
utilidade.
A barbárie permitiu que o chefe da nação fizesse rostos graves. Em
menos de 24 horas, Temer perfilou-se diante das câmeras três vezes — em
solenidade no Planalto, em rede nacional, em visita ao Rio. A barbárie aguçou a
inteligência do presidente. As ideias agora brotam-lhe aos pares. Sob atmosfera
sombria, vieram à luz duas providências.
Uma medida é inédita em tempos redemocratizados: o setor de
segurança encontra-se sob intervenção federal no Rio. A outra iniciativa é
recorrente: vem aí o Ministério Extraordinário da Segurança Pública.
A intervenção no Rio é prima-irmã da operação de garantia da lei e
da ordem que transferiu os militares dos quarteis para o sopé das favelas
cariocas. Mas a barbárie trouxe o comando unificado do general-interventor
Walter Souza Braga Neto.
O novo ministério apenas absorverá pedaços do organograma da velha
pasta da Justiça que, aliás, já trazia a Segurança Pública enganchada no nome
desde o ano passado. A diferença é que a barbárie exigiu um ministro que lhe
dedicasse atenção exclusiva.
“Temer é capaz de quase tudo, menos de informar o montante
de dinheiro que a União está disposta a jogar no buraco negro
em que se converteu a segurança pública. Sem dinheiro,
o discurso do novo Temer é uma espécie de inócuo com mesóclises”
A barbárie roçou no nariz de Temer as pesquisas encomendadas pelo
PMDB, que guindavam a segurança pública ao topo das inquietações do brasileiro.
Súbito, a reforma da Previdência, uma derrota esperando para acontecer na
Câmara, foi substituída pela guerra contra a bandidagem, cujo objetivo é a
restauração da paz.
Graças à barbárie, Temer se deu conta de que o futuro é um espaço
bem mais seguro do que o passado que lhe rendeu duas denúncias criminais e uma
equipe ministerial moralmente decomposta. O futuro permite a qualquer
governante vender para seus governados mais crédulos uma felicidade jamais
vista.
A barbárie mostrou ao presidente que no futuro cabe tudo, pois,
sendo futuro, não pode ser apalpado nem conferido. O futuro que inclui um Rio
pacificado talvez não chegue nunca. Mas a barbárie já terá sido de imensa
serventia para Temer se o crime organizado perceber que pode ser ótimo para os
negócios deixar Ipanema em paz durante os dez meses de intervenção federal.
A barbárie revelou ao país que Temer é capaz de quase tudo, menos de
informar o montante de dinheiro que a União está disposta a jogar no buraco
negro em que se converteu a segurança pública. Sem dinheiro, o discurso do novo
Temer é uma espécie de inócuo com mesóclises.
Para sorte de Temer, a barbárie ofusca o senso crítico dos
barbarizados. A cegueira coletiva facilita muito as coisas, pois o PMDB sujo de
Brasília pode intervir na administração do PMDB mal lavado do Rio como se a
facção de Temer não tivesse nada a ver com a quadrilha de Sérgio Cabral.
A barbárie dá ao país a sensação de que Temer está fazendo muito. É
como se tudo estivesse em movimento sem que nada precisasse mudar de lugar.
Reprovado por 70% dos brasileiros, Temer enxerga na barbárie a renascença de
uma reeleição. Talvez não obtenha tudo o que imagina. Mas a barbárie do Rio de
Janeiro deu meia-sola no governo de Michel Temer.
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