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INVENTÁRIO
A velha se foi. Deixou saudade miúda. Ninguém ameaçou cortar os
pulsos. Sempre foi chata. Esse demérito ninguém lhe tira. Missa de sétimo dia
rezada, hora do acerto: como dividir o “espólio” entre os quatro filhos?
A velha se casara uma vez; o velho, duas. Problema. Do primeiro
casamento, ele trouxe dois filhos. Que casaram e produziram filha única cada
um. Na ponta do lápis, o que se tinha eram quatro netas e dois netos. E quatro “jóias”
ordinárias: dois pares de brincos, duas correntes de feira de artesanato.
A irmã mais nova, já com seus 50 e tantos anos, tentou argumentar:
-- A mãe tinha quatro netas. Justo dar uma lembrança pra cada uma.
-- Você é louca? – rosnou a mais velha. Eles são irmãos só por parte
de pai. Logo, as meninas não são tão netas como nossas filhas. E tem mais: a
panela de pressão que a mãe deixou é minha.
UM PACIENTE
SINCERO (I)
-- Doutor: vou abrir o jogo, não engano ninguém. Gosto de beber,
fumo sem descontinuar, como o que me dá vontade, não gosto de andar. E mais:
não vou mudar. O que o senhor pode fazer por mim?
-- Nada, meu caro, nada. Se você não mudar seus hábitos, nada feito.
-- O senhor é igualzinho aos outros. Se basta parar de beber e
fumar, comer só verduras e frutas, andar uma hora por dia e abraçar árvores,
não preciso de médico. Até mais ver.
UM PACIENTE
SINCERO (II)
-- Quer dizer, doutor, que se eu parar de fumar melhoro muito.
-- Uns oitenta por cento.
-- Então, estou morto: nunca fumei.
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