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ADEUS ÁS ILUSÕES
(Por José Nêumanne) Dilma,
quem diria, logo dará adeus às ilusões. Nas campanhas eleitorais em que se
elegeu e reelegeu graças aos préstimos de João Santana, inventor de patranhas,
foi vendida por ele como a “gerentona” mais habilitada a pôr o País nos eixos e
guiar a classe operária ao paraíso. Acusada de ter cometido crimes funcionais,
o que está para interromper seu mandato, responde pela irresponsabilidade de,
por culpa da roubalheira do partido que a adotou, o PT, ter gerado a
quebradeira e o desemprego generalizados que condenaram a Nação às piores
crises ética, econômica e política da História. E ela ainda se agarra à imagem
de ser “pessoalmente honesta”, que começa a desabar.
Por
ironia da História, uma grave acusação foi feita por esse gênio da lorota de
fancaria, cujo depoimento ao juiz Sergio Moro, da Operação Lava Jato, deu mais
uma pista concreta de que, de fato, a campanha dela, que ele criou, produziu e
dirigiu, foi financiada por dinheiro roubado, de propina de fornecedores da
Petrobrás. A iminente homologação da delação premiada do mágico do marketing,
de sua mulher, contadora e sócia, Mônica Moura, e de muitos executivos da
empreiteira Odebrecht, entre os quais o presidente, Marcelo, prenuncia o fim do
refrão com que Dilma enfrenta o impeachment: não levou vantagem financeira em
nada nem tem conta em banco no exterior.
Para
convencer policiais, procuradores e juiz, o marqueteiro, chamado de Patinhas na
juventude pela fértil originalidade de letrista de música popular, na passagem
de sucesso pelo jornalismo e na maturidade de publicitário milionário, decidiu
abrir o bico como um “canário” da Máfia da Sicília em Chicago. E o faz de
maneira cínica, idêntica à usada para inventar a torpe falsidade de um Brasil
irreal de pleno emprego, redução da pobreza crônica e competente e honesta
gestão dos recursos públicos. Tudo isso foi pago com o fruto do maior assalto
desarmado aos cofres públicos da História, que levou à beira da falência a
maior estatal do País.
Joãozinho
Patinhas teve o desplante de confessar ao juiz que mentiu em depoimento
anterior, após se entregar desembarcando do Caribe, “para não destruir a
Presidência”, uma aparente expressão de lealdade. Mas que, na verdade,
continha, de um lado, o compromisso com a força-tarefa de comprometê-la. E, de
outro, a ameaça de que se dispunha a “cantar”, como um vil delator mafioso, que
Dilma disse desprezar. “Eu, que ajudei de certa maneira a eleição dela, não
seria a pessoa que iria destruir a Presidência, trazer um problema. Nessa época
já iniciava o processo de impeachment, mas ainda não havia nada aberto, e sabia
que isso poderia gerar um grave problema até para o próprio Brasil”, depôs.
A
primeira versão de “Tucano” (nome da cidade baiana onde ele nasceu, adotado
como codinome nas planilhas do banco de propinas da Odebrecht) não se sustentava
nas próprias pernas: segundo a narrativa, o dinheiro depositado em suas contas
teria sido ganho em campanhas no exterior e o pago pelo PT foi sempre legal.
A
história atual, endossada por Mônica Moura, é mais lógica: em 21 de julho, o
casal admitiu ter recebido no caixa 2 US$ 4,5 milhões para quitar uma dívida da
campanha de Dilma em 2010. Naquela mesma quinta-feira, o engenheiro Zwi
Skornicki, tido pela força-tarefa da Lava Jato como operador de propina do
esquema da Petrobrás (dito petrolão), contou ao juiz Sergio Moro ter
depositado, de 2013 a 2014, em conta do casal no exterior US$ 4,5 milhões para
saldar parte de uma dívida que o PT lhe ficou devendo durante a campanha.
O
valor coincide, mas não o recurso ao “caixa 2”, conversa mole de estelionatário
confesso, que sempre doura a pílula, tentando desviar a acusação para alguma
infração menor. Assim fazem quaisquer flagrados em crime mais grave. Deixo ao
atento leitor a decisão sobre a quem dar fé: quem pagou ou quem recebeu a
bolada?
Em
matéria de cinismo, marqueteiro e “presidenta” se equivalem. O “Feira” dos
registros da propina da Odebrecht se arvorou a dar lições de contabilidade fora
da lei ao maior especialista em lavagem de dinheiro da Justiça brasileira. Ele
disse que milhares, quiçá milhões, de políticos não prestam contas de campanhas
corretamente à Justiça Eleitoral. Recorreu a metáforas dignas de sua
imaginação: fariam uma fila de Brasília a Manaus, equivalente à Muralha da
China, ficando aptos a ser fotografados por satélite. Seria mais persuasivo se
delatasse pelo menos uma centena dentre os “98%” dos candidatos, que ele
considera trapaceiros como ele.
Os
exageros de João do milhão o qualificam como mestre da patroa em desfaçatez.
Terá sido de sua lavra a explicação que Dilma deu para o fato de, como
presidente do Conselho de Administração da Petrobrás, ter autorizado a compra
da refinaria de Pasadena à Astra Oil? Por que não ocorreu a ela, a conselho de
sua protegida Graça Forster, exigir do ex-diretor internacional, Nestor
Cerveró, relatório mais detalhado tecnicamente do que o que ela definiu como
incompleto, antes de autorizar negócio lesivo ao patrimônio nacional?
Agora
recorreu ao estilo de Lula, ao assegurar no Twitter: “Não autorizei pagamento
de caixa 2 a ninguém. Se houve pagamento, não foi com meu conhecimento”. Esse
argumento é fátuo. O professor José Eduardo Martins Cardozo devia ter-lhe
ensinado que, no caso, ela será acusada de ter-se beneficiado do dinheiro
ilegal na campanha. À Rádio França Internacional Dilma disse que, feito dois
anos após o pleito, o repasse não a atinge, omitindo que a propina pagou dívida
contraída para a própria eleição.
A
confissão de Santana, Mônica e Skornicki revela que o mantra profano dos
partidos acusados – o de terem recebido doações legais e aprovadas pelo
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – é mentiroso. Parte dessas doações se
originou de propinas e as tidas como legais podem ter usado o TSE como
lavanderia de dinheiro do furto.
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JOSÉ NÊUMANNE É JORNALISTA |