Coisa daquela, ali, no bar do
Carneiro, ninguém jamais vira. Aliás, ninguém jamais vira coisa daquela ali nem
em lugar algum.
A mulher estacionou o carro,
atravessou a rua pisando firme, entrou no bar, não disse bom-dia a seu ninguém,
caminhou na direção de Osório, pegou o marido pela orelha direita e esbravejou:
“Bebendo de novo, vagabundo! Em casa, a gente conversa melhor! Você vai ver o
que é bom pra tosse! Vamos embora, agora!” E pela orelha o levou até o carro.
Osório não esboçou reação.
Quem diria? Osório – que se mudara
recentemente para o único prédio da rua –, sempre metido a besta, sempre a
contar vantagens, sendo castigado em público feito menino travesso. E pela
mulher, na frente de todos.
-- O pior é que ele não me pagou nem
a despesa de ontem – choramingou o pobre Carneiro, já contabilizando
mentalmente o prejuízo certo, sua sina.
O espanto maior, porém, viria no dia
seguinte, quando Osório, sem qualquer constrangimento, entrou no bar, pediu
“uma” e perguntou ao Carneiro se lhe devia alguma coisa. Claro que devia.
Osório sacou um bolo de dinheiro do bolso, acertou as contas e pagou mais três.
-- Hoje, estou sossegado. Minha
mulher foi fazer exames médicos na cidade. Vai demorar.
Osório entornou as três já pagas,
pediu mais duas e se foi. Trôpego.
Quando Ananias lhe contou a história,
o Velho Marinheiro se limitou a dizer:
-- Um tipo assim merece mais que
puxão de orelha. Da próxima vez, espero que a mulher lhe abaixe as calças e lhe
sapeque a bunda sem piedade. É um desavergonhado, Ananias. Um desavergonhado. O
sujeito apanha da mulher em público e ainda volta ao local do “crime”. Pode?
(OS)
Parabéns, Mestre Orlando Silveira!
ResponderExcluirObrigado, Jorge. Abração.
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