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E O AMOR SAIU PELA
JANELA (II)
-- Não sei como você, Paulo, consegue passar o dia assim.
-- Assim como, Carlota?
-- Sem fazer nada.
-- Estou lendo o jornal. É o que me resta fazer, mulher.
-- Além de tomar umas e outras. Porque também não fica sem a cachaça
e o cigarro. Deus me livre. Se ainda me ajudasse em casa.
-- Não seja injusta, Carlota. É o único lazer que tenho.
-- Injusta uma ova. Você acha que me divirto lavando suas cuecas?
-- Você sabe que tenho a coluna arruinada.
-- Isso é verdade, sempre foi um inválido.
-- Sei aonde você quer chegar. Mas você é testemunha de que gastei
muita sola de sapato atrás de emprego. Não tenho culpa da crise. Numa situação
dessas, quem vai dar trabalho para um velho de 65 anos, quem? Cansei de ir
atrás de um e de outro. Procurei muitos colegas por mais de uma vez. Em vão. Só
sei fazer contas. Não sirvo para mais nada.
-- Isso é verdade... Dona Candinha, da quitanda, me disse que o bicheiro
está precisando de cambista. Por que você não o procura?
-- Não entendo nada de jogo de bicho. Está aí coisa que não entra na
minha cabeça. Além disso, é ilegal.
-- Que luxo é esse, Paulo? Tudo bem, tudo bem. Quando vou às comprinhas, vejo
por aí um monte de velho trabalhando para imobiliárias. Passam o dia sentado,
não sei quanto ganham.
-- Uma miséria.
-- Melhor que nada. Além do mais, você e seu jornal ficariam longe
dos meus olhos. O que não seria pouco.
OS – 15/06/2016
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