POR QUE NÃO COBRAVAM ATITUDES DE "DOM MENAS" E DA "PRESIDENTA"? |
A TAL DA LETRA A
Blog do Noblat – 09/06/2016 –
8 horas
(Por Valentina de Botas) Lidiane
Alves Brasil (jovem presa numa cela masculina no Pará); Patricia Acioli (juíza
emboscada e assassinada com 21 tiros, no Rio); Sinara Polycarpo Figueiredo
(analista demitida do Santander a pedido de Lula pelo prognóstico realista do
desastre que sobreviria com a reeleição de Dilma); Danielly Rodrigues (vítima
fatal do estupro coletivo de quatro moças no Piauí). Essas mulheres não
integraram os governos funestos de Dilma Rousseff, nem nominal, claro, nem
simbolicamente.
Só
pelo caminho da demagogia na atuação entre preguiçosa e delinquente de
auxiliares implausíveis em qualquer governo que, digno, não se orientaria pelo
sexismo – que precisa ser entendido não só como desfavorecer, mas também
favorecer alguém pelo critério do sexo. Sinara se distingue do grupo por ter
sido punida por Lula, como ele puniu Francenildo Pereira, demonstrando que o
jeca só diferencia homens e mulheres no escritório da presidência da república
nos tempos concupiscentes de Rosemary Noronha. Diferenças suspensas quando
assediou o menino do MEP, que resistiu ao charme que o caudilho não tem.
As
demais mulheres não se constituíram em preocupação que merecesse algum tipo de
política pública; não motivaram uma nota do governo inventor do populismo de
gênero; não arrancaram uma palavra da presidente que se pronunciou até a
respeito da mandioca e valoriza tanto a letra “a” do detestável “presidenta”.
Aquelas mulheres também não despertaram o interesse dos fanáticos defensores de
Dilma Rousseff que submetem todas as complexidades do mundo à escuridão
ideológica, numa compreensão desidratada ao restringi-las à sentença única e
multiutilitária: é tudo cultural.
Calados
por 13 anos, berram na militância oportunista contra certa cultura do estupro
que iguala a um ato brutal a saborosa e eterna cantada, numa atitude opressora
e castradora em nome de uma causa que, de resto, é sempre a gema de todas as
opressões. Eis um modo de não resolver coisa nenhuma, além do frêmito
publicamente secreto de mostrar os seios na multidão como um ato pretensamente
libertário num mundo em que algum recato ou alguma pudicícia tornam-se a
verdadeira revolução.
"De todo modo, contra o inimigo potencial, vale mostrar os peitos na multidão, mas não vale pedir cadeia para os criminosos. Ou alguém viu nas manifestações contra a tal cultura do estupro cartazes pedindo segurança
além dos que diziam “fora Temer”?"
Ocupam-se
da jovem estuprada no Rio porque o crime aconteceu sob o governo de Temer,
então suspendem a indivisibilidade do indivíduo para fragmentá-lo na ideologia
que satisfaz a si mesma no cio insaciável de enfraquecer o inimigo que não é o
estuprador, o assassino, o ladrão, o sequestrador reais, pois essa militância
não sabe lidar com as realidades que revelam a mixuruquice dela.
O
inimigo é o dissidente dessa irracionalidade configurado também em qualquer
homem porque percebido como um potencial estuprador. Só consigo compreender o
gozo perverso dessa fantasia se ela for pensada como potência realizada no
imaginário em contraste com a impotência frente ao agressor real. Contudo, é
evidente que assim nem se combate o machismo renitente na nossa sociedade, nem
o cotidiano de violência.
De
todo modo, contra o inimigo potencial, vale mostrar os peitos na multidão, mas
não vale pedir cadeia para os criminosos. Ou alguém viu nas manifestações
contra a tal cultura do estupro cartazes pedindo segurança além dos que diziam
“fora Temer”? Enquanto se deleitam nessa miragem, a população – sobretudo a
parcela mais pobre – padece sob a violência e a criminalidade reais. A
reportagem de VEJA a respeito da jovem carioca que sofreu o estupro coletivo
mostra a paisagem catastrófica da segurança pública que é indissociável da
administração inepta e indiferente do PT quanto às políticas públicas de
segurança que deveriam contemplar um plano de ação juntamente com os estados e
o patrulhamento decente das fronteiras para coibir a entrada de armas e drogas.
DESDE QUANDO MOSTRAR OS PEITOS NUS NA MULTIDÃO É ATO LIBERTÁRIO? |
Na
construção do pesadelo, o Rio de Janeiro se destaca desde a gestão desastrosa
de Leonel Brizola também quanto à criminalidade, inspirada num esquerdismo
sempre leniente com a bandidagem, vista como expressão de incerta brasilidade,
de uma malandragem libertária e outras miragens bacanas-tipo-descoladas, numa
antropologia tropicaloide fronteiriça com a idiotia. A garota carioca tinha 3
anos quando o PT chegou ao poder e, por 13 anos, ele se empenhou, pela omissão
fanática, em aumentar as probabilidades do horror descrito na revista sob a
vigência da lei dos criminosos, a ausência do Estado, a impotência das
famílias, os jovens fazendo escolhas erradas num contexto socioeconômico que
lhes esfrega na cara um punhado delas.
Em
meio à desolação, Dilma e a confraria que ela inspira só enxergam a dita
cultura do estupro e só depois do afastamento da presidente para, de modo
repulsivamente hipócrita e manipulador, atrelar aquela brutalidade a um
recém-inaugurado governo só de homens. É a tal da letra “a”. Essa contribuição
dos romanos ao mundo, alfa na versão grega, aleph como abertura do alfabeto
hebraico com que Borges nomeou seu magnífico conto em que o particular e o
universal se condensam para abrigar todo o conhecimento, a letra “a” nos deu
presidenta – a condensação acanalhada da nossa tragédia.
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