M. FLAUSINO |
O MIMIMI DE DILMA
(Artigo publicado em
09.06.2016)
(Por Percival Puggina)
Quem já passou pela experiência de encolher seu padrão de vida, apertar o
cinto, mudar-se para imóvel menor, em bairro pior, vender o carro novo para
comprar um usado, entenderá bem o que vou escrever.
Nos
últimos dias tenho conversado com muita gente vivendo concretamente essas
experiências. Muitos deles eram jovens com bons postos de trabalho, colhidos
pela tesoura determinada pela recessão. Profissionais bem sucedidos em diversas
áreas, assumiram a direção de seus carros e se tornaram motoristas do Uber, por
exemplo. Tenho ouvido suas histórias e seu esforço de adaptação a uma nova
realidade. Tenho lhes conferido, principalmente pelas histórias de vida, a
desejada nota cinco que os credencia a continuar no serviço. É nota dada ao
cidadão, ao chefe de família, ao estudante bolsista no exterior, que precisou
retornar porque o programa secou. Era um programa para crescer até a eleição e
minguar depois, sabe como é. O mandato presidencial de Dilma tinha que ser
"legitimamente conquistado".
Pois eis que a tesoura, uma outra tesoura,
acabou atingindo a própria presidente. Ela foi afastada segundo o rito
constitucional e aguarda o julgamento do Senado. Enquanto isso, salário
integral, curte as comodidades do Palácio da Alvorada, com um séquito de fazer
inveja a qualquer família real europeia. No entanto, para a Dilma, ela está nas
masmorras de uma espécie de Coliseu, onde aguarda algumas semanas pela decisão
final. Naquele dia precisará que mais de 27 entre os 81 senadores ergam o
polegar e a restituam à vida antiga, que tão mal levava o Brasil e tanto bem
lhe fazia viver.
Tivesse
fé, Dilma deveria subir de joelhos as escadarias da Penha. Deveria lavar o
átrio da Igreja de Nosso Senhor do Bom Fim. Foi-lhe dado o privilégio de
presidir a república e ela fez mau uso dessa ventura conduzindo o país a uma
situação que se torna desnecessário descrever porque seria falar sobre a vida
de cada um. No entanto, em vez de agradecer e penitenciar-se, Dilma reclama.
Reclama de tudo, como se estivesse nas masmorras do Coliseu Romano.
Reclama
de não ter jato da FAB à disposição para viajar quando e para onde bem entenda.
Reclama da reduzida equipe. Reclama do cartão de alimentação. E, no entanto, de
uma ponta a outra, a lista de suas efetivas disponibilidades é feita de
privilégios! São regalias negadas aos trabalhadores. E ainda mais recusadas aos
milhões de brasileiros desempregados por sua incompetente condução da política
econômica. A estes, desempregados pela corrupção, desempregados pelos gastos
durante o estelionato eleitoral de 2014 e pelo dinheiro despejado no
totalitarismo dos camaradas bolivarianos, ela não dedica uma única palavra.
O
dedo acusador de Dilma volta-se contra tudo e todos. Só não encontra o rumo do
próprio peito.
Percival Puggina (71),
membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário, escritor e
titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais
e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da
utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
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